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20 de fevereiro de 2020

Sócrates: vida e obra de um ídolo corinthiano

Sócrates fazendo sua comemoração clássica 
No dia 19 de fevereiro de 1954, nasceu o irmão mais velho de seis irmãos- um deles o ídolo do São Paulo, Raí. Esse primogênito ganhou o nome de Sócrates, devido ao interesse de seu Raimundo Vieira nas teses filosóficas de Platão. Mas ele acabaria ficando conhecido por muito mais do que isso!

O Magrão, como os mais íntimos o chamavam, foi considerado por muitos um dos melhores jogadores do Brasil e do mundo, devido à sua classe e inteligência dentro de campo. Não bastasse esse reconhecimento, aqui no Brasil seu legado foi além: Sócrates foi pioneiro no processo de participação de atletas nos movimentos de redemocratização do país na década de 1980. Um ídolo de muitas facetas, e um exemplo para toda a Fiel!

DENTRO DAS 4 LINHAS

Sócrates no Botafogo-SP (Foto: Reprodução)
Sócrates começou sua carreira no Botafogo-SP, onde fez 269 jogos e marcou 101 gols; sendo meio campista carregando sempre o número 8 nas costas. Chegou no clube aos 15 anos e estreou com 18 em um amistoso.

No dia 18 de março de 73 disputou sua primeira partida profissional saindo do banco, onde o seu time empatou em 1x1, apenas 2.989 pessoas estavam presentes nesse grande momento e desse tempo adiante foi só alegria. Em 76 foi artilheiro do Campeonato Paulista com 15 gols.

Depois no ano seguinte entrou pra história do clube sendo fundamental pra uma das maiores conquistas do Botafogo-SP, a Taça da Cidade de São Paulo - equivalente ao primeiro turno do Campeonato Paulista. Numa campanha onde o time venceu 11 partidas, empatou 6 e perdeu apenas uma, marcando 32 gols e sofrendo 10. Nessa campanha o Botafogo venceu o Santos de Pelé na Vila por 3x2 com direito a 2 gols do Sócrates de calcanhar. Na semifinal eliminou o Guarani para enfrentar o São Paulo na decisão e empatar sem gols para se sagrar campeão. Mesmo jovem era visto como como um líder e com a cabeça muito boa.

Após grande ano no Botafogo o jovem despertou interesse de dois grandes clubes, Corinthians e São Paulo. Todos sabemos o rumo que ele teve, porém existe toda uma história por trás dessa contratação, você conhece?

Antes de contratar Sócrates, o Corinthians contratou Geraldão. Ambos jogaram juntos no Botafogo e o Magrão acabou se adaptando ao estilo de jogo do atacante. Porém Geraldão acabou não rendendo muito, quem o fazia jogar era o meia, sem o companheiro o seu futebol murchou. Daí veio o interesse do então presidente da época Vicente Matheus em contratar o jogador, mas sabendo que teria concorrência o presidente chegou na frente para a disputa. O São Paulo na época tinha interesse no volante Chicão - o clube da zona sul precisava vender o jogador para contratar Sócrates. O volante foi oferecido para o rival por 5 milhões de cruzeiros, então certo dia Vicente enviou seu vice e irmão Isidoro para negociar a transferência. Enquanto os dirigentes do São Paulo estavam distraídos o presidente foi conversar com Sócrates e contratou-o com o dinheiro do próprio bolso.

Ele chegou no Corinthians em 1978, onde disputou 298 jogos e marcou 172 gols. Foi esse clube que o levou para seleção e o consagrou ídolo nacional. Fez sua estreia no dia 20 de agosto de 1978 contra o Santos - seu time do coração. O jogo acabou empatado em 1x1, dessa vez em uma estreia pra quase 120.000 pessoas. A década de 80 marcou sua passagem com a Democracia Corinthiana - da qual falaremos mais sobre - e com o bicampeonato paulista de 82/83.

Sócrates, pela Seleção Brasileira, disputou 63 partidas e marcou 25 gols. Fez sua estreia no dia 17 de maio de 1979 goleando o Paraguai por 6x0. Pelo Brasil disputou duas Copas do Mundo as de 82 e 86, que marcaram o início das suas frustrações no futebol. Na seleção Magrão jogou ao lado de Telê Santana, Toninho Cerezo, Falcão e Zico, mas nem essas estrelas foram capazes de evitar a queda na semifinal para a Itália na derrota por 3x2 em 1982. Em sua outra Copa, realizada no México, a seleção parou nas quartas de final em um jogo contra a França, onde enquanto a partida estava 1x1, Branco sofreu um pênalti. Sócrates, cobrador oficial, deixou Zico bater, mas ele acabou desperdiçando. A partida passou pela prorrogação e foi para os pênaltis, onde nosso ídolo parou no goleiro francês e perdeu as penalidades.

O fracasso da seleção não impediu a Europa de arregalar os olhos para o futebol que Sócrates apresentava. Era difícil ele sair do Corinthians, mas a ida dele para a Fiorentina aconteceu devido uma promessa política pelo retorno do direito de ir às urnas, feito diante de dois milhões de pessoas. Não só sofremos uma perda política como a de uma peça importante em campo - após sua saída foi aos poucos acabando a democracia corinthiana.

Sócrates vestindo a camisa do Fiorentina 
Em 1984 o time italiano trouxe o jogador brasileiro para substituir o ídolo Giancarlo Antognoni, que se lesionou e ficaria fora durante o ano. Mas em sua primeira temporada a Fiorentina ficou em 9º no Italiano, não disputando o título durante o campeonato todo. A insatisfação vinha do time e Sócrates não foi poupado. Lá, ele realizou apenas 25 jogos e marcou 6 gols.

Devido ao fracasso na Itália o jogador voltou para o Brasil, onde atuou por Flamengo e Santos, antes de voltar para o Botafogo-SP, onde terminaria sua carreira em 26 de novembro de 1989, em um amistoso contra o Itumbiara onde Sócrates jogou apenas 45 minutos.


FORA DAS 4 LINHAS

Enquanto se destacava como jogador, Sócrates fazia a faculdade de medicina onde se formou aos 24 anos, onde a partir daí, com seu diploma em mãos o seu pai o deixou assinar um contrato.

Então no Corinthians, ele encontrou Adilson Monteiro Alves, e após algumas conversas foi dado início à Democracia Corinthiana, um movimento que mostrava uma democracia dentro de um time de futebol. Para todas as decisões era necessário o voto de todos os funcionários do clube, além disso o bicho era distribuído igualmente dos jogadores até o roupeiro. O contexto da época era uma ditadura, porém enfraquecida pelos movimentos crescentes de insatisfação popular e pedidos de retorno do país aos rumos democráticos.

O movimento liderado pelo jogador deu início à utilização da parte acima do número na camisa de futebol para uso de marketing, com a frase "Dia 15 vote". O direito de votar foi uma briga que ele comprou e que lhe custou o fim do ciclo no Corinthians e da Democracia Corinthiana.

Sócrates com  camisa ''Dia 15 Vote'' (Foto: Reprodução)
Na Itália, as teorias que explicam seu fracasso estão relacionadas aos seus gostos. Durante o movimento no Corinthians o jogador deu fim as concentrações, algo que não aconteceu e ele teve de viver uma vida de atleta que não o agradava devido ao fato dos hábitos dele de fumar e beber. Com isso, Magrão sentiu dificuldades a essas tarefas que não estava acostumado a realizar. Enquanto esteve no Botafogo o jogador nem treinava!

Esses acontecidos e o regime menos liberal imposto pela Fiorentina são minimizados por outros dois fatores. Ele frequentava a noite italiana semanalmente, quando não diariamente, fator que atrapalhou seu desenvolvimento no campo devido ao desgaste que essas festas causavam e pela perseguição da imprensa. Até agora não foi confirmado oficialmente, mas o outro fator seria a má relação do jogador com os companheiros, que teve início quando Sócrates suspeitou que seus parceiros estavam envolvidos no escândalo como o Totonero, de 1980.

4 DE DEZEMBRO DE 2011

Jogadores do Corinthians homenageando Sócrates com a sua comemoração 

Neste dia, Sócrates aos 57 anos deixou seis filhos e um legado, devido uma decorrência de um choque séptico, uma infecção generalizada, às 4h30.

Segundo boletim médico divulgado no dia 3, o quadro dele já era grave. Essa era a terceira vez que o ex-atleta era internado só naquele ano. Nas outras duas ocasiões ele passou por tratamento para conter uma hemorragia digestiva, causada pelo consumo prolongado de álcool.

A primeira internação de 2011 durou nove dias, e ele teve alta em 27 de agosto. Na segunda, em 5 de setembro, Sócrates ficou na UTI e precisou da ajuda de aparelhos para respirar. Recuperado, recebeu alta 17 dias depois.

Depois da sua primeira internação o jogador em uma entrevista concedida ao fantástico assumiu ser dependente do álcool e contou como a bebida, daquela vez, quase o levou à morte.


Em outra entrevista, feita pelo SporTV em novembro, o jogador falou sobre a relação entre o esporte e o álcool, e nela o Doutor diz que nunca teve problema de abstinência e que o consumo nunca afetou seu desempenho dentro de campo.


Sócrates morreu em um domingo, no mesmo dia em que o Corinthians enfrentava o Palmeiras em busca do título brasileiro. Dentro do campo o Timão segurou um empate sem gols, o bastante para se sagrar campeão e, assim, honrar a história desse eterno ídolo do Timão!

Sócrates, nunca esqueceremos!

Escrito por Victor Consoli, revisado por Daniel Keppler

Siga o autor no Twitter: @uhTorugo

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