Nesse domingo (19), o historiador do Corinthians, Fernando Wanner, divulgou em sua página do Instagram uma grande novidade: a cronologia dos escudos do clube estava incorreta, e foi corrigida!
Tivemos acesso a essa informação há cerca de três semanas, por meio do próprio Fernando e do grande jornalista Celso Unzelte, após termos percebido uma grande discrepância de informação na Internet sobre o tema. Mas nos comprometemos a esperar a divulgação oficial do fato antes de publicarmos esse texto.
Tudo começou ao decidirmos criar uma página aqui no site contando a evolução dos nossos distintivos. Ao consultar algumas fontes, percebemos que elas batiam na sequência dos primeiros escudos, da seguinte forma:
1913: surge o escudo com as iniciais "CP", sem escudo em volta
1914: é criado o escudo com a iniciais "CP", dentro do escudo bege, com o "C" em forma de ferradura
1915: novo escudo, agora também com a letra "S" formando as iniciais "SCP"
1915: mais um escudo com as iniciais "SCP", mas em novo formato
1916: o escudo, ainda com as iniciais "SCP", ganha o formato redondo
No entanto, em outubro do ano passado, o Corinthians anunciou a descoberta de um novo escudo, vocês devem se lembrar. Tratava-se de um distintivo muito parecido com o terceiro da lista acima, porém sem o "S". Ou seja, ele contava apenas com as iniciais "CP". E que teria sido usado em amistosos no ano de 1916.
Mas essa narrativa tinha um grande problema, que tivemos que enfrentar enquanto produzíamos o site: por que o Corinthians voltaria a usar um escudo com as iniciais "CP" em 1916, se de acordo com a cronologia o clube já usava o "SCP" na camisa há pelo menos um ano?
Teria sido aquele escudo um símbolo feito às pressas para os amistosos? O clube teria optado por usar o "CP" no lugar do "SCP" por alguma razão desconhecida? Ou o Corinthians simplesmente usava vários escudos paralelamente no início de sua história?
Uma luz no mistério
Após nova checagem em vários sites na Internet, inclusive com buscas em hemerotecas digitais, sem qualquer sucesso, decidimos tentar a sorte com Celso Unzelte, torcendo para que alguma resposta viesse. E ela veio. E ela surpreendeu: o "escudo perdido" não era de 1916, como divulgado na imprensa!
De acordo com Unzelte, a foto na qual o escudo aparecia é da partida Corinthians 2x2 Internacional, disputada em 21/9/1913 pelo Paulista!
Jogadores do Corinthians em registro de 21 de setembro de 1913 (Foto: Arquivo Corinthians) |
Esse erro, descobriríamos depois, foi provocado por uma incorreção da biblioteca onde a foto foi encontrada, que a registrou como se fosse de 1916. E ainda havia uma anotação indevida, feita à caneta, de que ela seria de 1914. Porém ela era realmente de 1913, como Unzelte apontou!
Ainda fomos premiados com outra informação do Professor, e que nos respondeu uma daquelas dúvidas que descrevemos há pouco: SIM, o Corinthians usava diversos escudos em paralelo nos seus primeiros anos!
Mais que futebol
E para entender isso, é necessário compreender que, desde sua fundação, o Corinthians já era mais que um time de futebol. A poliesportividade faz parte do nosso DNA. E para provar o quando isso é verdade e importante, a intervenção de Fernando Wanner foi fundamental!
Ele nos dividiu a peça-chave que faltava para encaixar essa cronologia: o "escudo perdido" não era de 1916, nem de 1913. Ele era mais antigo ainda, de 1912! E sua primeira aparição não é no futebol, mas no pedestrianismo. Que é, por acaso, o esporte onde o Corinthians foi campeão pela primeira vez!
Os vencedores do primeiro troféu conquistado pelo Corinthians, em 1912 (Foto: Arquivo Corinthians) |
Na foto acima, estão Batista Bonni, João Colina e André Lepre, atletas campeões da Taça Unione Viaggiatori Italiani, disputada em 1912. Percebam as camisetas: em duas delas, temos o escudo "CP" sem moldura; e na terceira, o escudo redescoberto ano passado, que fora divulgado como se fosse de 1916!
Fica uma grande dúvida
Essa descoberta cria um novo mistério: qual dos dois escudos acima foi criado primeiro? O "CP" sem moldura, bordado nas camisas por Antônia Perrone, esposa de Raphael Perrone, um dos cinco fundadores? Ou o "CP" com moldura, criado pelo litógrafo Hermógenes Barbuy, irmão do lendário Amílcar Barbuy, ídolo corinthiano entre 1913 e 1923?
Isso, ainda não sabemos. Talvez um dia, novas informações venham a público e possamos jogar ainda mais luz aos primeiros anos da nossa história. Mas com o que se sabe, já é possível reconstruir a cronologia dos nossos distintivos, trabalho esse feito por Fernando Wanner e que divulgamos agora aqui:
Nova cronologia dos escudos do Corinthians
1912: Surge o "CP" entrelaçado, sem moldura, bordado nas camisas por Antônia Perrone, esposa de Raphael Perrone - um dos cinco fundadores do Corinthians
1912: Na mesma época, o litógrafo Hermógenes Barbuy, irmão do jogador e ídolo do Corinthians Amílcar Barbuy, cria um distintivo com o "CP" entrelaçado, dentro de um escudo medieval
1914: Um novo escudo, criado para a disputa da Liga Paulista daquele ano. O "C" em forma de ferradura faz alusão ao Campo do Lenheiro e às mulas que puxavam os bondes da cidade na época
1916: Após ser proibido de disputar competições no ano anterior, em 1916 o Corinthians volta ao Paulista com um novo escudo de Hermógenes Barbuy, similar ao de 1912 mas com a adição do "S" de "Sport", formando o "SCP" entrelaçado
1916: No mesmo ano, Hermógenes Barbuy cria outro escudo, com uma moldura preta, que também foi usado naquele estadual - vencido pelo Corinthians.
1917: Novo escudo de Hermógenes Barbuy, pela primeira vez em formato redondo. O novo desenho é criado em comemoração ao Paulista de 1916 e ao início da construção do Estádio da Ponte Grande.
1918: Surge outro escudo, com a bandeira do Estado de São Paulo ao centro. É exibido pela primeira vez ao ser pintado no pavilhão da fachada da Ponte Grande.
1926: Após a compra do Parque São Jorge, o Corinthians decide criar o Departamento de Remo. Antes de sua fundação, o associado Scafanhask tem a ideia de pintar dois remos, uma âncora e uma bóia junto ao escudo, na primeira versão do símbolo que atualmente temos hoje.
1940: O clube era conhecido como "campeão na Terra e no Mar" devido aos títulos seguidos no futebol e no remo. Para celebrar as conquistas, o artista Francisco Rebolo, ex-jogador do clube, redesenha o distintivo de 1926 e o então presidente em exercício Alfredo Ignácio Trindade o oficializa como símbolo máximo do clube.
1980: No intuito de modernizar o escudo, o artista Orfeu Maia cria uma nova versão do distintivo, refinando seus elementos, transformando o símbolo do Corinthians no que ele é atualmente conhecido!
Essa cronologia já se encontra na nossa página "Escudos", no menu do site - ampliada com a história dos nossos escudos com estrelas e o do Centenário! Confira clicando aqui!
E então, o que achou? Acredita que no futuro teremos mais descobertas sobre a história do nosso Corinthians? Comente!
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