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20 de fevereiro de 2020

Orçamento 2020 do Corinthians: previsão ou ilusão?

A aprovação da previsão orçamentária ocorreu em reunião do Conselho Deliberativo, no último dia 13 (Foto: Reprodução)

Há cerca de uma semana, o Conselho Deliberativo do Corinthians aprovava, em reunião, a previsão orçamentária do clube para 2020. Originalmente isso deveria ter acontecido em dezembro de 2019, mas por diversos motivos a reunião acabou interrompida e a votação não foi feita, ficando para cerca de dois meses depois.

A aprovação dos números foi bastante noticiada, há poucos dias, mesmo tendo ocorrido logo após a eliminação do Timão na Pré-Libertadores, e acabou soando como uma "boa notícia" para muitos, pois o documento aprovado estima que o clube estará com as contas no azul em dezembro: R$ 40 mil de superávit. Irrisório, sim, mas realmente soa um bom número, ao se lembrar que em dezembro a estimativa era de déficit de R$ 21 milhões. Ou seja: em 60 dias, o clube conseguiu "enxugar" R$ 20 milhões das contas, a fim de o clube encaixar as despesas dentro das receitas, coisa que antes parecia impossível.

Mas, como o clube fez isso, você sabe? Alguns veículos até esmiuçaram alguns números e as mudanças mais importantes feitas na proposta revisada e apresentada ao Conselho no último dia 13, mas achamos pouco. Mais do que isso? Outros números da proposta, inclusive alguns que não mudaram, são difíceis de entender, por N motivos.

Por isso, decidimos apresentar, aqui, todos os detalhes da proposta de previsão orçamentária enviada pela diretoria do Corinthians ao Conselho, e aprovada pelo mesmo, e levantar alguns pontos que nos deixaram, no mínimo, intrigados. Primeiro, vamos mostrar a proposta, então as mudanças feitas, e aí fazemos nossos comentários. Vem com a gente?

A PROPOSTA

AS MUDANÇAS FEITAS


Foram basicamente sete alterações feitas pela direção do clube, entre a proposta de dezembro e a de fevereiro:

1 - Um pequeno aumento nas receitas com o Fiel Torcedor, justificada pelo reajuste nos planos e um "aumento na base de sócios";
2 - Economia de R$ 5 milhões com salários e encargos de atletas;
3 - Economia de R$ 1 milhão com energia elétrica;
4 - Economia de R$ 3,2 milhões com despesas de viagens;
5 - Economia de R$ 500 mil com materiais, graças à parceria do clube com a Joly;
6 - Economia de R$ 1 milhão com "outras despesas" (?)
7 - Economia de R$ 9,5 milhões com "despesas financeiras líquidas".

Fazendo assim com que o que era um déficit de R$ 21,3 milhões virasse um superávit de R$ 40 mil, praticamente só "cortando na própria carne".

AS DÚVIDAS

No papel parece tudo ótimo, quase altruísta. O clube enxugando as despesas pra espelhar uma gestão financeiramente responsável. Mas, será que faz tudo sentido aí? A gente não tem certeza, e sabe que muito torcedor por aí também não tem.

Um dos pontos que chamam mais a atenção é o item "Direitos de TV", que estavam estimados em R$ 230,555 milhões e continuaram nesse valor após a queda do time na Pré-Libertadores. Afinal, o time estimava originalmente ir no mínimo até as oitavas do torneio:


Ao cair três fases antes, faria sentido as receitas com TV serem comprometidas. No entanto, os valores ficaram intactos na versão revisada do documento. Isso fica mais curioso ao se perceber que as despesas de viagem, essas sim, foram reduzidas em R$ 3 milhões, possivelmente espelhando as viagens que o time não vai mais fazer pelo torneio. Se as despesas foram cortadas, as receitas não deviam ser também?

Outro ponto interessante, mas que não causa dúvidas e sim preocupações, é o valor dos patrocínios. O Corinthians estima receber, esse ano, pouco mais de R$ 51 milhões dos patrocinadores de camisa. E esse valor conta todas as modalidades; o futebol masculino, apenas, recebe R$ 46,733 milhões. Muito pouco para um clube da grandeza do Corinthians.

Também chamou a atenção o fato de que a dita "economia" com salários parece estar a caminho de ir para o ralo, afinal Ederson está chegando e ele terá um impacto considerável no orçamento com seu salário e luvas. A imprensa noticiava que, quando o contrato negociado era de quatro anos, o jogador custaria aos cofres alvinegros R$ 400 mil por mês. Com um ano adicionado, esse valor diminuiria, mas continua sendo um acréscimo na folha de pagamento. Lembrando: foi graças a um aumento de mais de 30% na folha de pagamento, no decorrer de 2019, que o déficit corinthiano do ano passado explodiu.

Não se pode deixar de falar, ainda, no item mais impactante dessa revisão orçamentária, que são os quase R$ 10 milhões de economia com as "despesas financeiras líquidas", que são os juros que uma empresa tem a pagar referentes a compromissos financeiros, seja de curto ou longo prazo. Essas despesas, que eram estimadas em R$ 52,704 milhões, passaram a R$ 43,226 milhões - uma diferença de quase 18%. Não é um índice qualquer. Fica a dúvida se isso é relativo a negociações em andamento, estimativas de negociação, ou simplesmente uma expectativa que o clube sequer sabe obterá.

A Arena Corinthians também é motivo de preocupação. No orçamento do ano passado, sua receita com bilheteria estava estimada em R$ 75 milhões. Mas arrecadamos, na verdade, pouco mais de R$ 61 milhões. Para esse ano, a promessa da direção, no documento enviado aos conselheiros, era de que os números seriam estimados "tendo como parâmetro inicial os valores históricos realizados em 2019". Mas, inexplicavelmente, o Corinthians decidiu prever uma arrecadação de R$ 70,88 milhões com a Arena em 2020!

Para se ter uma ideia do quão irreal é esse número, fizemos algumas contas. Considerando o ticket médio de R$ 50 do Corinthians na Arena em 2020, seria necessário o clube vender exatos 1417600 ingressos - cerca de 25% a mais do que nos anos onde mais vendeu. Além disso, com o número de jogos que restam na temporada, mesmo que o clube chegasse na final da Copa do Brasil e do Paulista, o time teria que manter durante o ano todo uma média superior a 41 mil torcedores em Itaquera para receber essa quantidade de torcida - nossa média anual recorde é de 33,5 mil. Já deu pra perceber o irrealismo da estimativa, né?

Pode-se argumentar que "tanto faz", pois o dinheiro da Arena não vai para o clube. Mas a obrigação legal do Corinthians é de oferecer uma previsão dentro da realidade. A quem interessa inflar a previsão de receita da Arena?

Enfim, há ainda outros pontos, que podem vir a ser levantados nesse texto mesmo. Mas acreditamos que já são dúvidas suficientes para refletir: será que as receitas e despesas da previsão orçamentária do Corinthians estão adequadas à nossa realidade? O que há de estimativa baseada nos fatos e o que há de chute no ar, moldados de forma a aparentar uma realidade financeira que não existe de fato?

Qual é a real situação financeira do Sport Club Corinthians Paulista?


Escrito e revisado por Daniel Keppler

Siga o autor no Twitter: @daniel_keppler



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