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24 de fevereiro de 2020

Perfil: Movimento Corinthians Grande

Logo do Movimento Corinthians Grande, grupo de oposição à atual diretoria (Foto: Reprodução)

Quando criamos o Corinthians 247, definimos que nosso propósito seria debater e exaltar o Corinthians, 24 horas por dia e 7 dias por semana. Já fazemos isso há quase dois meses, cobrindo diversas modalidades e opinando sobre assuntos sensíveis relacionados ao clube.

Nessa matéria, começamos a promover essa debate em outra frente: a política. Queremos conversar com os diferentes grupos e movimentos que existem no Timão, para conhecer seus princípios e ideais, além de saber suas opiniões sobre diversos temas importantes ao clube. E começamos essa ronda por um grupo que ganhou notoriedade nas últimas eleições do Corinthians e que, desde então, é voz ativa na oposição à atual diretoria do clube: o Movimento Corinthians Grande.

Apresentamos uma lista de perguntas ao Movimento e agora divulgamos as respostas, com exclusividade aqui no site! As opiniões aqui expressas estão assinadas em nome de Felipe Ezabella, Fernando Alba e Fábio Carrenho, os membros da chapa que disputou a última eleição presidencial do clube. Vem com a gente conferir?

1 - Que avaliação o MCG faz das "chapinhas", dois anos após o Conselho ter sido eleito dessa forma pela primeira vez? Foi uma mudança válida, cumpriu com o esperado? Valeu a pena?

Sim, foi uma mudança muito válida. Arejou um pouco a política corinthiana, com mais pessoas participando ativamente do processo eleitoral, formando novos grupos, surgindo novas lideranças. Acreditamos que ainda precisaremos de pelo menos mais umas três eleições nesse formato para conseguirmos avaliar o sistema, os prós e contras, antes de pensar numa nova mudança.

2 - O MCG se identifica como oposição à atual direção, que há anos está no poder no SCCP. Estar nessa posição e atuar dessa forma na vida cotidiana do clube é tão difícil como pode parecer para quem não vive a política corinthiana?

Sim, desde o início temos feito o papel do contraditório. Cobrando, principalmente, o que foi feito de promessas eleitorais, bem como transparência e cumprimento das normas estatutária. Infelizmente, a diretoria não tem respeitado o Estatuto, principalmente as normas orçamentárias e de governança. Temos feito cobranças sempre que há oportunidade, mas é muito difícil de se conseguir algum avanço quando os demais conselheiros não se conscientizam que não se trata apenas de “política”, mas do cumprimento de regras do próprio clube. É muito difícil porque são poucas as oportunidades que o conselho se reúne. Não é igual uma Câmara dos Deputados onde existem reuniões diárias; o Conselho se reúne 3 ou 4 vezes ao ano.

3 - Em quais ideais o MCG se baseia para atuar dentro do Corinthians?

Enquanto oposição, nos baseamos apenas no cumprimento de regras estatutárias. Publicação de balanços, orçamentos, explicações de negócios mal conduzidos e pouco transparentes, declarações mentirosas na tentativa de ludibriar associados e torcedores (como a que a dívida do estádio estava quitada, ou que as prestações da Caixa estavam em dia). Esse tem que ser o papel da oposição.

4 - De que forma o MCG vê a relação entre o Corinthians e causas sociais? Dentro disso, como vocês veem a condução do clube em episódios como a retirada da camisa do Gustavinho do memorial, ou a campanha "Uma estrela para não esquecer", ou ainda a questão do número 24?

O Corinthians foi o pioneiro no trato de questões sociais. Talvez tenha sido o primeiro clube com projetos sociais no departamento criado ainda no primeiro mandato do presidente Andrés Sanchez, o Departamento de Responsabilidade Social, com o projeto Time do Povo. Porém, as ações sociais efetivas têm que vir acompanhadas de atitudes sinceras de quem acredita e não apenas como uma ação de marketing. Também defendemos a ampliação do departamento. Na campanha apresentamos um projeto de criação de uma entidade própria, a FUNDAÇÃO CORINTHIANS, seguindo exemplos de vários outros clubes ao redor do mundo. Uma diretoria própria, orçamento próprio, CNPJ próprio e voltado tão somente para ações sociais. Uma pena que a atual diretoria não tenha abraçado essa ideia.

5 - Tem havido um grande debate sobre a questão do clube-empresa, inclusive com projetos de lei sendo debatidos na Câmara de Deputados. De que forma o MCG analisa essa questão? Acreditam que seria uma mudança benéfica ao Corinthians?

Ainda é muito cedo para tratar de clube-empresa no Corinthians. São muitos os modelos praticados no mundo, cada uma com seus aspectos positivos e negativos. Acreditamos que o clube ainda precisa evoluir muito em questões de governança e profissionalização, mesmo sendo uma associação, para no futuro, quando a questão do clube-empresa estiver consolidada no país, pensarmos e discutirmos a sua viabilidade para o Corinthians.

6 - Outro debate que existe atualmente, em menor grau, é em relação ao clube social, e por consequência as outras modalidades que o Corinthians desenvolve. O MCG é a favor de o Corinthians ser uma entidade poliesportiva? Como o movimento vê, por exemplo, a entrada do clube nos e-sports?

Sim, acreditamos que o Corinthians é um “Sport Club”. Mas tudo deve seguir estritamente os orçamentos projetados, com patrocínios, utilização de leis de incentivo e dentro da realidade do clube. Infelizmente muitos projetos que o clube participa hoje são desenvolvidos por questões políticas e não por política esportiva. Isso acaba gerando um próprio mal estar dentro das modalidades que, todos os anos, têm o receio de acabarem sendo extintas.

7 - O MCG vem se manifestando continuamente sobre a falta de transparência que envolve os números sobre a Arena Corinthians. O comportamento do Corinthians sobre o tema mudou de alguma forma recentemente, seja sobre a renegociação com a Caixa, seja sobre a quitação do passivo de R$ 160 milhões com a Odebrecht?

Não, muito pelo contrário. A cada cobrança as informações são ainda mais “escondidas”.

8 - Outra questão frequente em manifestações do MCG é as finanças do clube. Sabemos que a dívida do Corinthians subiu de R$ 178 milhões em 2011 para R$ 626 milhões em 2019. São números alarmantes. O MCG teme que o Corinthians possa "cruzeirar", se nada for feito? E ainda, o que deve ser feito na visão do Movimento?

Infelizmente temos que colocar um pouco dessa responsabilidade na conta dos conselheiros, que são coniventes com os mandos e desmandos da atual diretoria. O orçamento não é cumprido e as contas são mensalmente aprovadas no CORI, anualmente no Conselho. Nosso grupo é um dos poucos que frequentemente vem chamando a atenção para essa situação de total descontrole financeiro. E mesmo com toda a regulamentação existente, o presidente pede “desculpas” e segue tudo bem. Estamos imaginando que vamos terminar essa gestão com saldo negativo em quase R$ 2 bilhões se contarmos a conta do estádio. Temos que fechar as torneiras, agir com transparência e trabalhar para o aumento de receitas do clube.

9 - De que forma o MCG analisa a postura recente do Corinthians no mercado? A sensação geral que fica entre os torcedores é de que o clube compra caro, vende barato e valoriza muito pouco suas promessas. O Movimento entende dessa forma? Caso sim, a que se atribuiria esse comportamento e o que deveria ser feito para acabar com esse círculo vicioso?

O Corinthians, há anos, não tem dinheiro para uma grande transação sem precisar de parceiros. Então, os parceiros acabam ficando com grande poder decisório nas negociações. É uma fórmula que pode ter dado certo no passado, mas que acabou sufocando financeiramente o clube. Não temos um grande jogador que posa ser negociado para “salvar” o ano financeiro. Mesmo o Pedrinho, pelo o que estamos lendo nos noticiários, será um fracasso em termos financeiros. Porque se a negociação for mesmo de 20 milhões de euros, temos que pagar 30% para os demais detentores de direitos; tem a contratação do colombiano Yoni por 3 milhões de euros, mais comissões por essas duas transferências, impostos, taxas... vão sobrar no caixa 10 milhões e olhe lá.

Agora, em termos de elenco, fizemos boa contratações. Só que ninguém sabe ao certo os termos, valores, quem e como foi pago isso. Para o torcedor é ótimo ter no início do ano Luan, Cantillo e cia... mas quando a janela de julho abrir, o time é desmontado como vem acontecendo ano a ano...

10 - A chegada de Tiago Nunes representa uma espécie de "quebra de filosofia" no Corinthians, após uma década de futebol que privilegiava uma defesa sólida a um ataque potente. O Movimento acredita que essa década, e tudo que veio com ela dentro e fora de campo, deixará algum legado para o clube, positivo ou negativo?

Claro, a história do clube é contada dia a dia. Vamos lembrar cada passagem, ou cada era, com suas características, vitórias, derrotas. Torcemos muito pelo sucesso da equipe e do Tiago Nunes.

11 - Como o MCG analisa o ajuste nas finanças feito pelo Flamengo nos últimos anos, que lhes permitiu aumentar as receitas a um nível quase bilionário e montar um elenco que hoje é o melhor do país, sem ter sequer uma sombra do déficit nas contas? O Movimento considera o Flamengo recente um exemplo para o Corinthians?

O futebol é feito de ciclos. Tivemos ciclos em que vários clubes conseguiram se destacar, por diversos motivos, e depois acabaram por perder força. Agora é a vez do Flamengo, que ficou anos à margem dos grandes títulos por conta de uma sequência de gestões que não privilegiavam as boas práticas de governança. O Flamengo ficou os 6 anos das duas gestões do Presidente Bandeira de Melo se reestruturando. Tinha uma dívida muito superior à receita. Fez a lição de casa, priorizou honrar os compromissos e colocar a casa em dia em termos de governança, sempre explicando e comunicando isso para a torcida que acabou por entender. Agora está colhendo os frutos do que plantou. Ninguém muda um clube do dia para a noite. A reformulação das suas categorias de base, por exemplo, fez aparecer Vinicius Jr., Paquetá, Reinier e outros e, mesmo com o triste episódio do incêndio, fez com que o clube tivesse receitas extraordinárias e pudesse investir ainda mais na qualificação da equipe. Ainda dá tempo para o Corinthians mudar e correr atrás do prejuízo. Mas a cada dia que passa a diferença só aumenta. Não podemos deixar passar a oportunidade de mudança.

12 - De que forma o MCG veria a utilização do Parque São Jorge pelo Corinthians, em algumas partidas do Campeonato Paulista, a fim de valorizar o patrimônio do clube? Mesmo que fossem necessários ajustes, por exemplo, a fim de obter alvarás e laudos?

Acreditamos que o Pq São Jorge não comporta mais jogos do futebol masculino, até porque temos uma Arena novinha para usar e para pagar! Mas, podemos usá-lo sim para as categorias de base e para o futebol feminino, como tem sido feito nos últimos anos.

13 - De que forma o MCG analisa a relação do Corinthians com o Corinthian-Casuals, que nos visitou em 2015 e segue lutando na Inglaterra? Acredita que os laços entre os dois clubes poderiam ser maior?

Claro, faz parte da nossa história. Infelizmente a atual diretoria não leva esse assunto a sério. Prometeu na campanha investir no clube inglês para fazê-lo voltar à primeira divisão da Inglaterra! Isso foi uma péssima piada, de extremo mal gosto, até desrespeitoso com o time inglês, que deve ter se sentido usado. Quem conhece a história do clube sabe que eles abdicaram lá atrás do profissionalismo. Mas logicamente que podemos ter projetos de interesse comum, respeitando sempre a história de nosso “irmão” inglês.

14 - Citem os três maiores acertos e os três maiores erros cometidos pela atual diretoria do Corinthians.

A profissionalização do futebol feminino e o apoio que tem sido dado à equipe é, notoriamente, de se elogiar. A volta do basquete profissional também foi uma iniciativa bacana. Sobre os erros, são tantos....mas a falta de transparência, com certeza, é um dos maiores. A falta de solução (e de contas) da Arena, o absurdo do Sub 23, o “obscuro” patrocínio do BMG e as obras do clube social são alguns deles.

Perguntas feitas pela equipe do Corinthians 247, conteúdo revisado por Daniel Keppler

Obrigado à equipe do Movimento Corinthians Grande pela disponibilidade e retorno

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