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12 de fevereiro de 2020

Analisando o Corinthians, horas antes de sua primeira decisão

Depois de um mês de Corinthians em 2020, já é possível fazer as primeiras análises do time (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

Um novo ciclo começou no Corinthians. Uma nova filosofia de jogo se evidencia desde os primeiros toques na bola nessa temporada. Seria injusto dizer que o torcedor era infeliz com o velho Corinthians, depois de tantas conquistas... mas é inevitável falar que, apesar de sofrido, o Bando de Louco queria uma mudança, né?

Depois de um ano considerado ruim, onde o título paulista até veio mas as atuações em campo foram decepcionantes, Fábio Carille saiu e, para 2020, chegou Tiago Nunes, um treinador jovem, mas experiente e cascudo - e com currículo já vitorioso, no seu pouco tempo dentro da elite do futebol. No Athletico-PR, entre 2017 e 2019, conquistou um Paranaense, uma Copa Sulamericana e uma Copa do Brasil (eliminando favoritos como Grêmio e Flamengo), sem falar ainda da quase amistosa Copa Levain.

Tudo isso colocou a expectativa em torno do seu trabalho aqui no Corinthians lá no alto. Mas, passados cerca de um mês desde que o time se reapresentou, o que podemos destacar de positivo nesse novo Timão? E o que decepciona no trabalho até aqui? Afinal, há motivos para o corinthiano sentir alguma saudade do velho Corinthians?

Pontos positivos

No futebol, embora o resultado seja o mais importante, é inevitável que o jogo jogado traz a torcida pra dentro do espetáculo e o torna mais prazeroso de se assistir. Tiago Nunes chegou com esse objetivo. Mudança de rota grande, para um time que primeiro se preocupava em não tomar gols, e agora passa a ser um time que busca propor o jogo e impor velocidade no último terço do campo.

Além disso, o perfil de atleta desejado pela comissão claramente mudou: saíram ídolos e chegaram jogadores escolhidos a dedo pelo treinador, por meio de uma lista seleta de nomes. O "quem não corre não joga" virou mantra para os atletas. Mudanças que geraram uma certa dúvida e alguns questionamentos, até mesmo certa revolta em alguns casos - como a dispensa de Ralf.

Mesmo assim, bastou um primeiro tempo - contra o New York City, na Florida Cup - para esses questionamentos virarem euforia nas rodas de amigos. O Corinthians exibia para sua apaixonada torcida um time que tomava gosto em atacar o adversário e que buscava recuperar a bola perdida o quanto antes. Mas deu certo nos jogos seguintes?

Tem dado, quando o time titular jogou. O dedo do treinador aparece em vários momentos durante os jogos. Um deles é no uso de Cantillo, um meio campista absolutamente moderno, que alia o bom passe a um ótimo posicionamento dentro do campo de jogo. Tem o passe curto e em vários momentos abusa dos passes verticais pra buscar a jogada de perigo - algo característico do esquema de jogo de Nunes. Dificilmente se verá um passe pra trás do jogador colombiano.

O ótimo futebol de Cantillo tem reflexos inclusive em seus companheiros de time, especialmente em Camacho, jogador que em sua primeira passagem pelo Corinthians era criticado pela torcida e que, desde que o treinador sinalizou com sua volta, sofreu com muita desconfiança da torcida. Mas desde o primeiro jogo, sua presença no time titular tem sido essencial para o jogo corinthiano funcionar. É ele quem protege a última linha corinthiana, para que o jogo ofensivo possa ser proposto de forma 100% efetiva, com velocidade e passe vertical no último terço do campo.

Temos que falar também de Boselli, que se antes era um jogador que pouco pegava na bola, tendo muitas vezes que ir até o meio buscar jogo e acabava preso em meio ao esquema de retenção de bola para tirar o Corinthians do sufoco (e mesmo assim foi um dos artilheiros do time em 2019), hoje consegue jogar como centroavante nato que é! O Corinthians 2020, que propõe o jogo, se encaixa perfeitamente no jogo do argentino, que já marcou quatro gols e deu duas assistências na temporada.

Cantillo tem sido o grande destaque do Corinthians (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

Pontos negativos

Mas não é apenas de glórias e felicidade que vive Tiago Nunes, e principalmente o torcedor. Há motivos para os pés se manterem no chão, já demonstrados em campo nesse início de temporada. Um deles é o lateral-esquerdo Sidcley, indicação do treinador.

Ele, que veio da Ucrânia com status de titular incontestável - posição que assumiu mesmo fora de forma, aliás -  ainda está fora de ritmo de jogo e está bem abaixo de seus companheiros, fisicamente falando. Sua falta de condição vem atrapalhando a defesa, por constantemente quebrar a linha defensiva, e pela sua dificuldade tanto de ir ao ataque quanto de recompor a defesa nos contra-ataques adversários. Falamos mais desse nosso problema aqui nesse texto.

Mas essa não é a única questão envolvendo a defesa. O modelo de jogo de Tiago Nunes sobrecarrega esse setor, já que a linha alta defensiva também é utilizada. Gil, embora seja um zagueiro técnico com vigor físico, tem pouca velocidade e às vezes peca nas coberturas dos laterais. O problema só se agrava por conta de seu parceiro, Pedro Henrique, ainda atuar com alguma insegurança às vezes, e o time não ter muitas opções além disso - talvez a melhor alternativa seja Bruno Méndez, mas o uruguaio ainda não conseguiu se firmar como opção.

E, provavelmente, o principal problema do Corinthians por enquanto no ano seja Luan. A crítica pode soar injusta, mas ela é apenas proporcional ao tamanho da expectativa gerada por sua contratação. O meia foi contratado com status de titular absoluto, para ser o cara que faria o time jogar. Deveria ser, portanto, o "dono do time"... mas não é o que vem acontecendo por enquanto. Luan parece estar uma rotação abaixo de seus companheiros no meio campo (Camacho e Cantillo), com pouca movimentação e rotação no ataque.

Ele é exatamente o cara ideal para pisar na área e fazer os gols, e ao mesmo tempo verticalizar e dar aquele passe decisivo, mas ainda vem atuando de forma mais tímida, por mais que, nos números, ele seja o atleta do Timão com mais passes decisivos. No fim das contas, ele está, aos poucos, virando um coadjuvante de Cantillo. E o ideal seria que ambos jogassem na mesma sintonia; tudo ficaria bem menos difícil.

Luan tem sido um ponto de preocupação nesse início de temporada (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

Uma ponderação


Dito tudo isso, vamos à ponderação: qualquer análise feita nesse momento da temporada pode vir a se tornar ultrapassada já no dia seguinte. Afinal trata-se de toda uma nova filosofia de jogo, que se já foi bem compreendida pelo elenco, ainda está sendo implementada!

Por isso, cabe a reflexão: devemos analisar o desempenho do time, obviamente, mas vale a pena uma cobrança mais forte nesse momento? Não temos certeza. É o começo de um trabalho e a convicção é muito importante para o processo dar certo. E deve ser assim independente do resultado do jogo desta quarta, contra o Guaraní (PAR).

Talvez o segredo seja pararmos de ir tanto ao céu quando o elogio vem e tanto ao inferno quando uma crítica é feita. O Corinthians, e Tiago Nunes, precisam de equilíbrio na análise, e muita confiança, para que possam produzir uma temporada à altura de sua Fiel torcida. É isso que pretendemos fazer aqui!

Escrito por Leonardo Ferreira, revisado por Daniel Keppler

Siga o autor no Twitter: @futebolnuecru

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