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27 de fevereiro de 2020

Torcedores, calma!

Em tempos de corinthianos com a paciência no limite, pedir um pouco de calma nunca é demais (Foto: Reprodução)

Desde a chegada de Mano Menezes ao comando técnico em 2008, foi implantada uma filosofia de jogo no Corinthians com um simples objetivo: ganhar de qualquer jeito, independente do desempenho em campo. O que importava era o resultado. Adaptada por Tite e continuada por seu, até então auxiliar, Fábio Carille, o Timão se manteve sob esse estilo, colecionando títulos na década mais vitoriosa da história do clube, além do ódio de seus rivais, que quase sempre tinham times melhores e/ou um futebol mais bonito, mas que não conseguiam ganhar do Alvinegro.

Assim, o corinthiano, acostumado com a década brilhante que viveu, em termos de resultado, se viciou em vencer e (com razão) não quer que isso mude. Entretanto, esse período também tornou a torcida ainda menos paciente com o time, atirando para qualquer lado quando os tropeços acontecem, e sempre procurando a cabeça de alguém para pedir quando a equipe entra numa má fase, como a que existe hoje.

Projeto esgotado

Porém, uma coisa que parte da torcida parece não entender é que, com o tempo, esse projeto se esgotou - como todos os projetos, um dia, se esgotam. O Corinthians se tornou um time previsível, e a cada ano parecia "forçar a barra" ainda mais, querendo que elencos medíocres vencessem da mesma forma que outros fizeram, em anos como 2011, 2012 ou 2015. A temporada passada expôs esse esgotamento no seu nível máximo, e no fim do ano, decidiu-se que era hora de mudar essa filosofia.

Ao demitir Carille e contratar Tiago Nunes, Andrés Sanchez e o Corinthians passaram uma mensagem clara: era hora de ter outro tipo de futebol por aqui. Nunes, um dos destaques dessa “nova leva” de técnicos brasileiros, tem características bem distintas dos últimos cinco treinadores que passaram pelo clube, e era uma possibilidade real que as coisas talvez não dessem totalmente certo da noite para o dia.

A torcida parecia entender isso quando da contratação do treinador. Os feitos de Tiago nos seus menos de dois anos com o Athletico-PR o tornaram escolha quase unânime entre os corinthianos, na época. Fato bem relevante, em um momento de nosso futebol onde estrangeiros são os preferidos. E a aceitação ampla era compreensível: seu time foi um dos poucos capazes de parar o multicampeão e milionário Flamengo na temporada passada, levando a Copa do Brasil pra casa. E apesar de algumas críticas por não ter assumido o time já em novembro, o técnico chegou de bem com a torcida, que tinha muitas esperanças no trabalho do gaúcho.

50 dias de paciência

Entretanto, após menos de dois meses (!!!) de trabalho, o treinador parece não servir mais para comandar o Corinthians, e isso é bem difícil de entender. É verdade, sim, que o trabalho até aqui é longe de ser o melhor. Aliás, é um dos piores se tratando apenas dos clubes da série A do Brasileirão: são 4 vitórias, 3 empates e 5 derrotas em 12 jogos. Além, é claro, da eliminação na Pré-Libertadores pela segunda vez na história.

Mas a eliminação para o Guaraní (PAR), não deixa de nos fazer pensar. Afinal ela nos faz relembrar a primeira vez que isso ocorreu, lembram? Tite, no começo de seu trabalho, caiu para o Tolima (COL) na mesma fase. No entanto, colocando as eliminações em perspectiva, é impossível não perceber o quanto 2011 foi pior e mais traumático; não somente por se tratar da primeira vez que um time brasileiro caía nessa fase da competição, mas por como tudo aconteceu.

Ao contrário de agora, naquela época tínhamos um elenco recheado de estrelas (como Ronaldo e Roberto Carlos) e jogadores importantes como Chicão, Ralf, Alessandro e Paulinho. Na temporada anterior, o ano do nosso centenário, lideramos o Brasileirão até Mano Menezes sair para dirigir a Seleção, para depois disso terminar o campeonato em terceiro lugar - cenário bem melhor do que em 2019.

Tudo caminhava para que 2011 fosse um ano de redenção - e Tite fracassou no seu primeiro desafio, mesmo tendo tudo em mãos para ser bem sucedido. Para piorar, a queda provocou a aposentadoria de Ronaldo e Roberto Carlos e um semi-desmanche no elenco, além de perdas irreparáveis em patrocínio e marketing para o restante da temporada. A única coisa que não mudou? O treinador, bancado pela diretoria contra todas as apostas. Tite ficou, arrumou a casa... bom, o resto da história vocês conhecem, né?

A busca pelo equilíbrio

Apesar desse paralelo, não estamos dizendo que isso vai se repetir com Tiago Nunes. Nem sempre bancar o treinador é garantia de "volta por cima", e Fábio Carille em 2019 nos mostrou isso. Mostrou mais até: que às vezes bancar DEMAIS um treinador pode ser até pior para o time. Mas então, o que significa esse texto? Qual sua mensagem?

Simples: a de que a cobrança é importante, mas o equilíbrio na cobrança é mais importante ainda. Será que 12 jogos (sendo dois amistosos) bastam para pedirmos cabeça de treinador? Ou de darmos crédito e confiança a matérias que listam "erros" de Tiago Nunes como se fossem crimes cometidos contra a humanidade?

Estamos falando de um elenco que, em grande parte, foi herdado de Carille, cuja grande maioria vem treinando há mais de um ano sob a ótima do defensivismo. Estamos falando de uma pré-temporada curta, dedicada a adaptar esse elenco a uma mudança radical na postura em campo, que perdeu um atleta titular (Ramiro) ainda em janeiro, só pôde contar com outro titular (Pedrinho) às vésperas de uma decisão e incluiu outro no elenco (Yony) há duas semanas.

E apesar de todos esses percalços, o Corinthians já tem uma cara mais "Tiago Nunes" e menos "Fábio Carille”. Posse de bola, zagueiros no campo de ataque, Cássio trabalhando muito com os pés e muitas finalizações nas metas adversárias são algumas das características da equipe, que ainda tem um teto de evolução muito alto. Perder é ruim? Claro que é, ninguém gosta. Mas o fato de perder deve nos impedir de ignorar que o desempenho nem sempre refletiu os placares em campo? Óbvio que não. Isso seria fazer a análise cega, apaixonada, clubista. E às vezes, a paixão é burra.

Andrés Sanchez pode ter mil defeitos, mas se tem uma coisa que ele (quase) sempre acertou foi na manutenção dos treinadores. A pressão das organizadas e de parte da imprensa e da torcida, que lá atrás não demitiu o Tite, já voltou a acontecer. E novamente, o treinador foi bancado. E isso é uma excelente notícia.

Se o Corinthians vai se acertar ou não, e fazer uma temporada à altura do que merecemos, só o tempo irá dizer. Mas como torcedores, cabe continuar na torcida e apoiar o trabalho, a esperança de que ele renda os frutos, assim como ocorreu no passado.

Escrito por Erick Araújo, revisado por Daniel Keppler

Siga o autor no Twitter: @erick_araujoo12

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