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26 de junho de 2020

Sócrates ou André Negão: quem estará certo?

Sócrates e André Negão: duas visões bem diferentes de corinthianismo (Foto: montagem)

Acredito que todo corinthiano já tenha visto, pelo menos uma vez na vida, o famoso vídeo onde o eterno Sócrates tenta explicar o que o Corinthians representou em sua vida, e como ele define o próprio Corinthians e seu torcedor. Nele, o Doutor diz o seguinte:

"Ter a oportunidade de viver boa parte e o mais importante período da minha vida dentro do Corinthians foi algo extraordinário para a minha formação. Estive no Corinthians entre 1979 e 1984. O Corinthians é muito mais que um clube de futebol... o Corinthians é uma religião, é uma grande nação. Mas, muito mais que isso, o Corinthians é uma voz. O Corinthians é uma força, é uma forma de expressão que a sua população tem. Num país em que os mais fracos, social, política e economicamente não tem voz, nunca, nesse caso tem! Quer dizer, através do Corinthians conseguem se manifestar. A torcida corinthiana utiliza o seu clube, o seu time, a sua expressão física como forma de contestação de tudo aquilo que não lhes é dado de direito."

Essa declaração de Sócrates não é apenas impactante por revelar o papel social que o Corinthians tem. Ela o é, igualmente, pois escancara a verdadeira natureza do vínculo entre o clube e seus torcedores. Trata-se de algo visceral, natural, indissociável, de forma que ser corinthiano não é apenas uma questão de escolha, mas de, a partir dessa escolha, tratar o Corinthians como uma ferramenta de cidadania! Portanto, algo muito mais além de uma simples questão de presença no estádio, ou consumo de produtos. Correto?

Bem, isso era o que Sócrates pensava. Mas hoje, descobrimos que talvez nossa concepção de corinthianismo esteve errada esse tempo todo. Pois é, quem diria né?

Finalmente pudemos ser iluminados pela verdade, e a pessoa a quem devemos graças a isso é André Luiz de Oliveira, também conhecido como André Negão, que atualmente ocupa a diretoria administrativa do Corinthians. Há algumas horas, em uma entrevista pela internet, nosso caro diretor fez o favor de revelar a verdade sobre o que é ser corinthiano. Preparado? Então lá vai:

"Ô chefia, você é sócio do clube? Não. Você é sócio-torcedor? Não, eu não sou. Você tem o cartão BMG? Não, não tenho. Então eu não posso te responder nada. Você não tem nenhum relacionamento com o Corinthians, você não é corinthiano."

Ou seja: na verdade, a relação entre o Corinthians e seu torcedor, na verdade, não é nada mais do que uma relação de consumo. O corinthianismo não é mais que o ato de consumir produtos comercializados pelo clube. E mais! Apenas ao preencher esse requisito e ganhar o selo "parabéns, você é corinthiano!" é que passa a ter o direito de questionar os atos da diretoria. Aos outros, cabe o silêncio dos não-corinthianos.

São pontos de vista bem diferentes né? Mas André Negão foi muito enfático na sua declaração. Então poxa, ele deve ter um bom embasamento pra falar. E na verdade, depois de pesquisar, percebi que ele de fato possui um largo currículo de serviços prestados ao Corinthians, sabiam?

Imaginem só: ele e nosso presidente Andrés Sanchez se conhecem desde os anos 1990! Eles viraram verdadeiros parças e, desde então, se apoiam politicamente. Foi assim que André conseguiu reverter o afastamento de Sanchez do Corinthians, no início dos anos 2000, conseguindo que ambos se tornassem, vejam só, conselheiros vitalícios do clube!

Anos depois, com Andrés eleito presidente em 2007, André Negão ganhou seu primeiro carguinho no clube: assessor administrativo. Pouco tempo depois, em 2010, teve a alegria de ver o filho André Vinicius jogar a Copinha - e em seguida ser contratado para o profissional! Família competente, né?

O rapaz esteve na folha de pagamento do Corinthians por seis anos, até 2016. Jogou duas partidas, a primeira em 2013. Foi emprestado, ao todo, nove vezes, sendo três para o Bragantino. Em quase metade dos empréstimos, sequer jogou. Mesmo assim, em 2014 (por exemplo) seu salário era de R$ 40 mil.

Enquanto o filho brincava de ser jogador, o pai articulava para ser o candidato à presidência pela Renovação & Transparência, mas Mario Gobbi ganhou a disputa. Ele assumia que "sonhava" em ser o "primeiro presidente negro do Corinthians". Mas, três anos depois, novamente não conseguindo a indicação, acabou aceitando ser o primeiro vice de Roberto de Andrade, em 2015. Eita, que altruísmo.

Mas a vida de um heroi, como a do nosso arauto do verdadeiro corinthianismo, também tem seus desafios. Em 2014, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal, junto com Andrés e outras pessoas, por crimes contra o patrimônio público e apropriação indébita. O processo havia sido encaminhado ao Supremo Tribunal Federal pois Andrés havia sido eleito deputado federal, porém em 2018 o STF devolveu a peça à Justiça de São Paulo, onde a tramitação continua até hoje.

Já em 2016, imaginem só, ele chegou a ser preso por porte ilegal de armas, enquanto a polícia fazia uma busca em sua casa por conta da Operação Xepa, da Lava Jato. Ele virou alvo dessa operação pois seu endereço foi encontrado em uma planilha de propinas da Odebrecht, ao lado do nome "André" e do codinome "Timão", como destinatário de R$ 500 mil da empreiteira. Mas isso certamente deve ser uma intriga maldosa. É assim que os herois são forjados, certo?

Felizmente, nada disso desmoralizou nosso prezado diante da diretoria corinthiana, em especial de Andrés Sanchez, que ao ser novamente eleito presidente do clube, voltou a lhe dar um cargo, assim como fez durante seu mandato na Câmara dos Deputados (André era seu assessor parlamentar). Dessa vez, ele atuaria como diretor administrativo.

Você já conhecia o que Sócrates fez pelo Corinthians. Agora, sabe também o que André Negão fez (e faz) pelo (e com) o Corinthians. Resta alguma dúvida sobre qual dos dois está correto sobre o que é ser corinthiano?

Eu não tenho dúvida alguma.

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