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29 de fevereiro de 2020

Obrigado por tudo, Jadson

Magic Jadson conquistou cinco títulos pelo Corinthians entre 2015 e 2019 (Foto: Reprodução/Best HQ Wallpapers)

No início da pré-temporada, o Corinthians fez um anúncio que acabou pegando muita gente de surpresa, pelo modo repentino como foi divulgado - apesar de, hoje em dia, já sabermos que foi algo debatido e discutido com cuidado: Ralf e Jadson, dois jogadores de longa história no clube, não seriam parte do elenco de Tiago Nunes para 2020.

Mas enquanto Ralf resolveu sua vida com o clube relativamente rápido, assinando sua rescisão dia 22 de janeiro, Jadson acabou ficando e iniciando a atual temporada treinando separadamente do elenco principal, e continuou fora dos planos do treinador. Não que não houvessem sondagens e negociações: o Coritiba foi um dos possíveis destinos do meia, mas a saída acabou se concretizando através da rescisão contratual mesmo.

Assim como no caso de Ralf, o Corinthians fez um acordo com Jadson. Ele receberá os salários a que teria direito até dezembro, mas em um prazo estendido de 24 meses, e em troca abriu mão do 13º salário, férias e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O acordo foi assinado nessa sexta-feira (28), cerca de um mês depois de ele já ter se despedido informalmente da torcida, pelas redes sociais, e agora está livre no mercado.

Uma troca que deu certo

Em cinco anos de Corinthians, Jadson somou 245 jogos disputados, sendo 198 como titular. Marcou 50 gols e ajudou o Timão a conquistar dois Brasileiros (2015 e 2017) e três Paulistas (2017, 2018 e 2019). Mas quem vê apenas os números pode se esquecer de como o Jadshow se tornou jogador corinthiano, e das incertezas sobre se ele daria certo por aqui.

Para isso precisamos voltar seis anos no tempo. Era 1º de fevereiro de 2014, e o Corinthians vinha de um janeiro onde até começou bem no Paulista, vencendo Portuguesa e Paulista, mas então sofreu duas derrotas seguidas: para o São Bernardo, no Pacaembu, e para o Santos, na Vila Belmiro, em partida irreconhecível onde a equipe foi atropelada por 5x1, sem ver a cor da bola.

Revoltada, a torcida reagiu da pior maneira: no dia seguinte, cerca de 100 torcedores de Gaviões da Fiel, Camisa 12 e Pavilhão 9 invadiram o CT Joaquim Grava, onde o time faria atividade. Foram mais de duas horas de terror, que só terminaram após Mano receber um grupo de torcedores para uma conversa. Funcionários do clube foram ameaçados e até mesmo celulares foram furtados. Os maiores alvos do protesto? Emerson Sheik e Alexandre Pato.

O Corinthians já estava tentando negociar o jogador antes disso. Ele havia sido contratado em janeiro de 2013 junto ao Milan por € 15 milhões (R$ 43 milhões na época), a maior negociação da história do futebol brasileiro até então. Após um bom começo, marcando gols e sendo importante em algumas partidas, demonstrou insatisfação por não ser usado como titular por Tite. Somado a isso, no meio do ano começa a sofrer críticas por conta dos gols perdidos, o que só muda no início do Brasileirão, quando ele volta a marcar, recupera a confiança e inclusive se torna titular da equipe.

Mas então, acontece o episódio-chave da sua passagem pelo clube: o pênalti perdido contra o Grêmio, nas quartas-de-final da Copa do Brasil, que praticamente sacramentou a queda da equipe no torneio. Após esse lance, Pato perder a confiança da torcida e seu rendimento nunca mais foi o mesmo, fazendo o Corinthians buscar meios de negociá-lo, mas sem sucesso.

Tudo mudou após a invasão do CT, em 2014. Se o Corinthians queria negociar Pato, agora era Pato quem também queria sair. Com Danilo em queda de rendimento, Douglas negociado e Renato Augusto irregular fisicamente, o Timão buscava um meia armador para o elenco. Tudo pareceu encaixar para um negócio com os rivais do Morumbi, afinal eles buscavam se reforçar com um atacante após perder Aloísio e tinha em seu elenco Jadson, que ainda que fosse o camisa 10 estava sendo pouco utilizado por Muricy Ramalho.

Invasão ao CT, em 2014, acelerou a saída de Pato - e assim, a troca dele por Jadson aconteceu (Foto: Rodrigo Gazzanel/Gazeta Press)
As conversas para a troca foram rápidas, e em questão de dias tudo se resolveu. Pato iria para o São Paulo, por empréstimo de dois anos, com o salário de R$ 800 mil dividido entre os clubes, enquanto Jadson seria cedido sem custos para o Corinthians (afinal ele só tinha mais 10 meses de contrato e recusou renovar para ser emprestado pelo mesmo prazo que Pato). Na época, a negociação parecia desequilibrada, pois Pato parecia ter mais potencial de retorno lá que Jadson aqui.

Quem era Jadson quando chegou

Então, Jadson chegou ao Corinthians, vindo do rival - mas isso não chegou a ser um grande problema, pois ele era um jogador com carreira estabelecida antes do São Paulo. Revelado pelo Internacional, acabou conhecido nacionalmente por meio do Atlético-PR, onde jogou entre 2001 e 2005, chamando atenção do Shakhtar Donetsk (UCR). Lá, firmou seu nome, tornando-se ídolo local e conquistando nada menos que oito títulos nacionais, além de uma Copa da UEFA (2008-09) inédita para o clube. Chamou a atenção de Mano Menezes, então técnico da Seleção Brasileira, sendo convocado em 2011 para três amistosos e para a Copa América, onde marcou seu único pelo Brasil, em jogo contra o Paraguai.

Jadson foi o primeiro estrangeiro a entrar na Calçada da Fama do Shakhtar Donestk (Foto: Reprodução)
Em 2012, ele é negociado com o São Paulo por € 4,6 milhões (R$ 11 milhões na época) e recebe a camisa 10 de ninguém menos que Raí. Durante dois anos, foi presença constante na equipe, pela qual venceu a Copa Sulamericana de 2012, e seguiu sendo lembrado para a Seleção, disputando a Copa das Confederações em 2013. No entanto, ao perder espaço no time por supostamente não poder jogar junto com Ganso no meio-campo, acabou insatisfeito e, vendo a chance de se transferir para o Corinthians e jogar mais vezes, acabou aceitando.

Sua história no Corinthians

Quem tinha dúvidas sobre se Jadson podia oferecer algo ao Corinthians rapidamente se convenceu do contrário. O meia se adaptou muito rapidamente, tendo um início meteórico. Já na estreia, em um Derby pelo Paulista, o jogador atuou muito bem e saiu de campo aplaudido. Marcaria seu primeiro gol ainda em fevereiro, contra o Oeste e faria no mês seguinte uma atuação de gala contra o Linense, marcando dois gols e dando uma assistência. Ele acabou sendo o melhor jogador do time naquele estadual e o artilheiro do Timão, até a parada antes da Copa do Mundo - tendo a honra, inclusive, de marcar o primeiro gol do Corinthians na história da Arena, em 1º de junho, no empate contra o Botafogo.

Após a Copa, porém, Jadson perdeu rendimento, e chegou a deixar a titularidade do time, terminando a temporada em baixa. Na pré-temporada, quase foi negociado, mas as tentativas fracassaram e ele prosseguiu no time. Bom para nós, pois ele recuperou o futebol aos poucos, e no Brasileirão voltou a ser destaque do meio-campo corinthiano, marcando 13 gols e dando 12 assistências no campeonato - sendo assim responsável por 40% dos gols corinthianos e totalmente fundamental na conquista do sexto título nacional do time, naquela que até então era a melhor campanha da história dos pontos corridos!

Jadson foi o craque do Corinthians no Brasileirão 2015 (Foto: Friedemann Vogel/Getty Images)

Mas, como tudo tem seu preço, sua saída acabou inevitável após ter brilhado tanto. Sua multa de € 5 milhões (R$ 21,2 milhões na época) foi facilmente paga pelo Tianjin Quanjian (CHN) e Jadson deixou o Corinthians, ainda em dezembro de 2015. Na Ásia, ele até ia bem, tendo disputado 31 jogos em 2016 - porém, com a subida da equipe para a elite chinesa, o clube decidiu rescindir unilateralmente seu contrato para investir em outros estrangeiros. Assim, ele ficou livre para voltar ao Brasil, e deu prioridade ao Corinthians. As conversas chegaram a travar com a pedida do meia, de receber R$ 650 mil mensais mais luvas de R$ 10 milhões, mas acabaram dando certo após ele reduzir a oferta para R$ 450 mil e R$ 4 milhões respectivamente. E assim, em 2017, ele voltava ao Timão!

Jadson foi a aposta de Fábio Carille para o setor de criação do Corinthians, e ele foi bem na tarefa: em 2017, o meia foi presença constante no time campeão paulista e brasileiro, marcando 10 gols em 48 jogos. No ano seguinte, manteve o bom rendimento, marcando três gols na campanha do bicampeonato paulista e um inédito hat-trick pela Libertadores, na goleada sobre o Deportivo Lara (VEN) pela primeira fase. Mesmo com a saída de Carille, ele continuou sendo utilizado por Osmar Loss e Jair Ventura, terminando a temporada premiado como o melhor jogador da Copa do Brasil e marcando 15 gols em 55 partidas no ano.

Em 2019, porém, tudo mudou. Vivendo um problema de saúde na família (o pai foi diagnosticado com câncer), Jadson teve dificuldades para chegar à forma física ideal, se concentrar e entregar o mesmo rendimento - sem falar na concorrência com Sornoza. Isso se refletiu com o jogador atuando menos jogos e minutos. No primeiro semestre, ele até foi opção importante durante o tri paulista, porém no Brasileiro foram apenas 19 jogos disputados. Ao todo, na temporada, foram 40 jogos no ano, e apenas um gol marcado. Desempenho que não convenceu a nova comissão técnica a mantê-lo no elenco para 2020, provocando sua dispensa.
Jadson teve um 2019 turbulento e de pouco rendimento, e acabou dispensado (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

Opinião

A visão do que é ser ídolo de um clube é muito relativa, e pessoal. Para mim, o Corinthians liberou um ídolo, ao se desfazer de Jadson. Mas a decisão é compreensível e deve ser respeitada, pois é um novo trabalho que se inicia. Jadson encaixava nessa nova visão, nova filosofia de trabalho de Tiago Nunes, cuja proposta de jogo privilegia a velocidade - algo que ele não podia mais entregar.

Mas Jadson continua sendo um jogador técnico, e pode entregar futebol à sua maneira, mesmo com 36 anos. Sendo assim, os dois lados ganharam com essa rescisão, pois agora J10 pode buscar um novo recomeço, para trabalhar o seu futebol e finalizar sua carreira. E o Corinthians, por sua vez, segue em frente com suas nova filosofia. Se vai dar certo ou não, só o tempo vai dizer... mas precisamos confiar.

Obrigado por tudo Jadson!

Escrito por Giovanne Menezes, revisado por Daniel Keppler

Siga o autor no Twitter: @GiovanneMeneze3

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