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29 de fevereiro de 2020

7 motivos pelos quais Boselli não pode ser reserva no Corinthians

Boselli é o artilheiro do Corinthians na temporada, com seis gols marcados (Foto: Gazeta Press)

Na última quarta-feira (26), vimos Tiago Nunes optar por iniciar o jogo contra o Santo André com Vagner Love no ataque, deixando Mauro Boselli no banco de reservas. Uma atitude um pouco surpreendente, e que gerou muitos debates entre a torcida. No final das contas, ele saiu do banco no segundo tempo, entrou no jogo e, ao marcar nos acréscimos, ajudou o Corinthians a evitar uma derrota que pressionaria demais a equipe no Campeonato Paulista.

Mas esse não foi o primeiro jogo em que Boselli ajudou o Corinthians a ganhar pontos, nessa temporada. Na verdade, a maioria dos gols marcados pelo argentino têm sido decisivos em 2020, apesar de muitos corinthianos terem impressão contrária, por alguns motivos. Entre eles, o fato de Boselli ainda não ter marcado em clássicos, e também por conta de algumas chances perdidas (ou porque foram defendidas pelo goleiro, ou porque a bola parou na trave).

Apesar de errado, esse raciocínio de parte da torcida é natural; faz parte da nossa cultura superdimensionar o fracasso e normalizar o sucesso. Mas justamente por isso, é fundamental que, de vez em quando, a gente coloque os números em cima da mesa para fazer uma análise justa das coisas. É o que faremos hoje, para responder: afinal, Boselli faz por merecer a titularidade no ataque?

1 - Experiência de sobra

Um ponto que deve ser levado em conta sobre Boselli é sua experiência. Ele, que é o jogador mais experiente do grupo (dia 22 de maio completa 35 anos), tem no seu currículo dois títulos da Copa Libertadores (um pelo Boca Juniors e outro pelo Estudiantes, ambos da Argentina), e uma FA Cup pelo Wigan (ING), em 2013. No Club León (MEX), foi campeão e artilheiro, e saiu de lá como ídolo após quase seis anos

Além disso, é um jogador que desde cedo demonstra que não sente grandes jogos. O maior exemplo disso é sua exibição no Mundial de Clubes da FIFA de 2009, quando foi titular nas duas partidas do Estudiantes (ARG) e abriu o placar da final, contra o Barcelona (ESP) de Lionel Messi, que só foi decidida a favor dos espanhóis na prorrogação. Esse tipo de "sangue-frio" diante de desafios maiores é fundamental quando se atua em equipes onde a pressão é grande e a camisa é pesada, como no Corinthians, e é um ponto a favor dele.

2 - Eficiência em um ano difícil

Ao chegar no Corinthians, em 2019, Boselli foi tratado como a solução do ataque. Mesmo assim, sua primeira temporada no Brasil foi difícil, marcada por poucas partidas como titular e uma certa desconfiança transmitida por Fábio Carille, que o tratava muitas vezes como terceira opção do ataque.

Mesmo assim, se engana quem acha que ele ficou para trás nos números: sua evolução em desempenho foi constante e regular. Até 29 de julho, por exemplo, Boselli tinha quatro gols em 29 jogos, onde atuou 1513 minutos. Já Love tinha sete gols em 38 jogos, onde atuou 2506 minutos. Em ambas as métricas, as médias de gols de ambos era muito parecida. Os números continuaram bem parecidos em outro levantamento, feito em 9 de outubro, quando Boselli já tinha seis gols em 35 jogos e 1842 minutos, enquanto Love tinha 11 gols em 49 jogos e 3414 minutos (todos esses dados foram extraídos do site O Gol).

Já em novembro, o Esporte Espetacular mostrou como a eficiência de Boselli era alta, ao divulgar levantamento que revelava: ele era o atacante da Série A que menos precisava finalizar para marcar um gol: 4,16 vezes. Love, por sua vez, precisava de 4,8 chances. Prova de que o pequeno número de gols do time se devia muito mais à pouca quantidade de chances criadas do que à eficiência do ataque, em si.

No fim das contas, apesar de jogar menos que os outros atacantes, Boselli terminou o ano sendo vice-artilheiro do time, com 11 gols, e em alta com boa parte da torcida.

Boselli teve dificuldades para conseguir sequências de jogos com Carille (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

3 - Salto de qualidade em 2020

Com a chegada de Tiago Nunes e as mudanças na filosofia do Corinthians, a expectativa sobre a utilização de Boselli - e também sobre seu rendimento - foi grande. E logo na estreia o argentino mostrou que se beneficiaria muito do novo jeito de jogar do time, ao marcar seu primeiro hat-trick com a camisa do Timão, na estreia da equipe no Paulista.

E passados 10 jogos oficiais na temporada, Boselli continua se mostrando fundamental para o ataque corinthiano. Tendo jogado nove dessas partidas, sendo oito como titular, ele é o artilheiro do time, com seis gols marcados. Além disso, deu duas assistências, fazendo com que ele tenha sido responsável por oito dos 12 gols do time no ano - um índice de 67%. Não é pouca coisa.

Outra forma de ver como esse desempenho é diferenciado é colocando os dados em perspectiva, comparando com os anos anteriores. Os cinco gols de Boselli no Paulista, por exemplo, já o fizeram superar os artilheiros do time nas edições de 2019 (Gustavo e Danilo Avelar) e 2018 (Rodriguinho), que marcaram quatro vezes. E ele está a apenas um gol de igualar o artilheiro de 2017, Jô.

4 - Qualidade com quantidade

Se seguirmos olhando apenas para o Campeonato Paulista, conseguiremos encontrar outros bons números sobre Boselli. Apesar da campanha irregular do Corinthians, ele é um dos artilheiros da competição, empatado com Willian, do Palmeiras, Camilo, do Mirassol, e Ronaldo, do Santo André - todos com 5 gols.

Além disso, dentro do elenco corinthiano ele é o atacante que melhor consegue aliar quantidade de finalizações com chutes certeiros. Segundo o Footstats, Boselli já finalizou 19 vezes no Paulista, sendo 11 no gol (um índice de acerto de 57,9%). No Corinthians, só Love tem índice melhor (60%), mas ele finalizou apenas cinco vezes. Já Luan chega bem perto no número total de chutes (17), mas só acertou seis deles.

No Campeonato Paulista como um todo, esse índice também se destaca: Boselli é o segundo jogador que mais chutes acertou no gol, entre todos os jogadores do torneio. Apenas Júnior Toddinho, do Guarani, está à frente, tendo finalizado 22 vezes e acertando 13.

5 - Gols que decidem jogos

Boselli marcou ou deu assistência em seis partidas do Corinthians no ano. E em quatro delas, a participação do argentino foi determinante para o resultado final:

Os três gols no 4x1 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto > garantiram a vitória
A assistência no 1x1 com o Mirassol > garantiu o empate
O gol no 2x1 contra o Guaraní (PAR) > garantiu a vitória
O gol no 1x1 contra o Santo André > garantiu o empate

Pode-se afirmar, portanto, que foi por causa de Boselli que conquistamos cinco dos oito pontos que temos no Paulista, e foi por conta de seu gol na volta da Pré-Libertadores que, apesar de eliminados, vencemos a partida e tivemos esperanças até o fim.

As únicas duas participações de Boselli que não influenciaram o placar foram seu gol na derrota para a Ponte Preta (1x2) e sua assistência na vitória sobre o Santos (2x0).

Luan, Love e Boselli: opções ofensivas do Corinthians em 2020 (Foto: Reprodução/Pinterest)

6 - Quando ele marca, as coisas andam

Por fim, vale destacar um dado interessante: o aproveitamento do Corinthians quando Boselli faz gol ou dá assistência é absurdamente melhor do que nos jogos onde ele passa em branco.

Foram seis jogos nessas condições, sendo que em quatro ele marcou gols e em dois deu assistência. Nessas partidas, o Corinthians acumulou três vitórias, dois empates e uma derrota, marcando 11 gols e sofrendo seis apenas. Um bom aproveitamento de 61%.

Mas, quando Boselli não joga ou joga, não consegue participar de gols, o Corinthians cai de produção: em quatro jogos, apenas um empate e três derrotas, marcando apenas um gol e sofrendo quatro. O aproveitamento cai para 8%. Sinal de "bosellidependência"?

7 - Top-5 entre os times da Série A

Até mesmo se compararmos os números de Boselli com os jogadores de outros times da Série A, veremos que ele se destaca. Seus seis gols no ano o colocam em quinto lugar em uma fictícia "lista de artilheiros" dos 20 clubes da elite nacional.

O líder dessa lista seria Gabriel, do Flamengo, que após a vitória do time carioca nesse sábado, contra a Cabofriense, chegou a nove na temporada. Em seguida temos Nenê, do Fluminense, e Gilberto, do Bahia. E na sequência, vem Pedrinho, do Athletico-PR, empatado com Boselli em seis gols. Sinal de que, de fato, é um grande início de temporada do nosso camisa 17.

Conclusão

Enfim, é claro que ainda estamos no início da temporada, mas são números a se observar. Claro que também precisamos lembrar das chances perdidas pelo argentino, como seu chute mascado contra o Guaraní (PAR). Ou ainda suas QUATRO bolas na trave, sendo uma justamente na ida do confronto contra os paraguaios?

Mas também é fato, e os números mostram, que ninguém no Corinthians combina tão bem volume de conclusão e eficiência no arremate como Mauro Boselli. Também é fato que ele gosta de finalizar, e finaliza bem, acertando o gol mais da metade das vezes, fazendo com que ele sempre esteja perto de marcar. Em um time que constantemente finaliza mais que 10 vezes por jogo, e às vezes mais que isso, ter lá na frente alguém que sabe o que faz com a bola é meio caminho andado para o gol.

Por isso, dizemos sem medo de errar: no ataque do Corinthians, não tem como: é Boselli neles!

Escrito por Daniel Keppler e Victor Consoli, revisado por Daniel Keppler

Siga os autores no Twitter: @daniel_keppler @uhTorugo

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