O Corinthians Feminino se tornou totalmente profissionalizado nessa temporada (Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians) |
O futebol feminino do Corinthians nasceu, assim como eu, em 1997. De lá para cá, alguns altos e baixos marcaram o time, que passou cerca de sete anos parado. Em 2016, o retorno do Timão feminino foi consagrado pela primeira vez como campeão da Copa do Brasil e a classificação para a Libertadores de 2017 – da qual também foi campeão, de forma invicta, na disputa de pênaltis contra o Colo-Colo.
Desde o retorno, o time feminino do Corinthians colecionou inúmeras vitórias, inclusive a brilhante campanha de 2019 (sobre o qual já falamos por aqui). Mas, talvez, a maior dela tenha acontecido há algumas semanas, quando o clube anunciou a profissionalização de todas as atletas para a temporada de 2020. Com o registro na carteira, as atletas femininas passam a ter contratos semelhantes aos atletas masculinos, incluindo multa rescisória com valor diferente para o Brasil e para o exterior. Ainda por cima passam a receber parte dos vencimentos na carteira de trabalho, garantindo direitos e benefícios do regime CLT.
O passo é extremamente importante e, mais do que isso, vai além do burocrático e transpassa as barreiras do machismo presente na modalidade. O Clube do Corinthians, com sua atitude, diz para suas atletas que as enxerga como as profissionais que são, investindo nelas e no time delas. E, com isso, o Timão sai na frente mais uma vez no projeto de desenvolvimento do futebol feminino do Brasil.
Visibilidade e representatividade
Além da valorização da profissional que está em campo carregando o escudo do Corinthians, a profissionalização – e toda a visibilidade que o clube tem dado para suas atletas e seu time feminino – serve para inspirar outras atletas, outras meninas e, por que não dizer outros clubes. Afinal, o exemplo é a melhor ferramenta de aprendizado.A sociedade como um todo compartilha de uma estrutura patriarcal que, por muito tempo, excluiu mulheres de determinados lugares. Por décadas, as mulheres eram restritas aos espaços domésticos, subordinadas a seus maridos e destinadas a viver no eterno “bela, recatada e do lar”. A luta aos poucos foi e vem ganhando força, garantindo que mulheres ocupem espaços desde sua casa, por escolha própria, até universidade, a política, instituições públicas, quadras e campos de futebol, por exemplo.
Partindo disso, o Corinthians se mostra disposto a travar essa batalha contra o machismo não só dentro de campo – com o desenvolvimento e a valorização do futebol feminino e de suas atletas – e também nas arquibancadas – com a construção e manutenção de campanhas como a #RespeitaAsMinas, que virou identidade do clube entre as torcedoras e ganhou estampas de camisas, capas de celular e outros souvenirs.
A importância de se levantar esse debate e declarar uma posição dentro desse embate vão além do futebol e se apresenta como uma questão de responsabilidade social. E, vale salientar, que não é somente o machismo que deve ser questionado e combatido, mas o racismo, a homofobia, a gordofobia, a xenofobia e tantos outros preconceitos também.
Inclusive, ao se tratar de homofobia, um clube que sempre se posicionou do lado do povo e contra sistemas de opressão, acabou tendo na fala do diretor Duílio Monteiro uma frase que compactua e perpetua a violência contra a população lgbtqia+ – no caso em questão, os gays. O diretor se desculpou, mas é necessário ressaltar que o mais difícil de se combater está justamente nessas situações. Nas pequenas piadas, rotineiras, que quase todo mundo rir e poucos questionam até virar uma polêmica. E assim como a homofobia, o machismo deve parar de ser naturalizado. Ele, suas piadas, gracinhas e assédios que passam, por muitas vezes, despercebidos ou são taxados como mimimi.
O caminho é esse, mas é longo
Como destaquei no início do texto, o Corinthians profissionalizou suas atletas do futebol feminino e isso é um passo importante e gigantesco, mas também precisamos falar sobre o fato de ter levado 23 anos para acontecer. De certo, a impecável campanha das meninas na temporada passada deu fôlego para essa ação que já estava sendo pensada desde a retomada do projeto em 2016.Percebam só, desde 2016 que há a vontade do clube de profissionalizar as meninas, mas – deixando de lado no debate alguma questão burocrática que possa ter adiado o processo – é fato que elas precisam provar, de alguma forma, a capacidade e se mostrarem tão boas – ou até melhores – do que os meninos do time profissional masculino para conseguirem essa conquistas.
E é um trabalho de formiguinha mesmo, aos poucos, torcendo pelo dia em que isso vai mudar e as coisas serão cada vez mais simétricas entre homens e mulheres, no futebol e no mundo. Até lá, que possamos comemorar cada vez mais vitórias das nossas meninas, dentro e fora de campo, através do clube que todos nós somos apaixonados e... Como de costume: vai, Corinthians!
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