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10 de fevereiro de 2020

O Corinthians e seu papel na representatividade feminina no futebol

O Corinthians Feminino se tornou totalmente profissionalizado nessa temporada (Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians)

O futebol feminino do Corinthians nasceu, assim como eu, em 1997. De lá para cá, alguns altos e baixos marcaram o time, que passou cerca de sete anos parado. Em 2016, o retorno do Timão feminino foi consagrado pela primeira vez como campeão da Copa do Brasil e a classificação para a Libertadores de 2017 – da qual também foi campeão, de forma invicta, na disputa de pênaltis contra o Colo-Colo.

Desde o retorno, o time feminino do Corinthians colecionou inúmeras vitórias, inclusive a brilhante campanha de 2019 (sobre o qual já falamos por aqui). Mas, talvez, a maior dela tenha acontecido há algumas semanas, quando o clube anunciou a profissionalização de todas as atletas para a temporada de 2020. Com o registro na carteira, as atletas femininas passam a ter contratos semelhantes aos atletas masculinos, incluindo multa rescisória com valor diferente para o Brasil e para o exterior. Ainda por cima passam a receber parte dos vencimentos na carteira de trabalho, garantindo direitos e benefícios do regime CLT.

O passo é extremamente importante e, mais do que isso, vai além do burocrático e transpassa as barreiras do machismo presente na modalidade. O Clube do Corinthians, com sua atitude, diz para suas atletas que as enxerga como as profissionais que são, investindo nelas e no time delas. E, com isso, o Timão sai na frente mais uma vez no projeto de desenvolvimento do futebol feminino do Brasil.

Visibilidade e representatividade

Além da valorização da profissional que está em campo carregando o escudo do Corinthians, a profissionalização – e toda a visibilidade que o clube tem dado para suas atletas e seu time feminino – serve para inspirar outras atletas, outras meninas e, por que não dizer outros clubes. Afinal, o exemplo é a melhor ferramenta de aprendizado.

A sociedade como um todo compartilha de uma estrutura patriarcal que, por muito tempo, excluiu mulheres de determinados lugares. Por décadas, as mulheres eram restritas aos espaços domésticos, subordinadas a seus maridos e destinadas a viver no eterno “bela, recatada e do lar”. A luta aos poucos foi e vem ganhando força, garantindo que mulheres ocupem espaços desde sua casa, por escolha própria, até universidade, a política, instituições públicas, quadras e campos de futebol, por exemplo.

Partindo disso, o Corinthians se mostra disposto a travar essa batalha contra o machismo não só dentro de campo – com o desenvolvimento e a valorização do futebol feminino e de suas atletas – e também nas arquibancadas – com a construção e manutenção de campanhas como a #RespeitaAsMinas, que virou identidade do clube entre as torcedoras e ganhou estampas de camisas, capas de celular e outros souvenirs.

A importância de se levantar esse debate e declarar uma posição dentro desse embate vão além do futebol e se apresenta como uma questão de responsabilidade social. E, vale salientar, que não é somente o machismo que deve ser questionado e combatido, mas o racismo, a homofobia, a gordofobia, a xenofobia e tantos outros preconceitos também.

Inclusive, ao se tratar de homofobia, um clube que sempre se posicionou do lado do povo e contra sistemas de opressão, acabou tendo na fala do diretor Duílio Monteiro uma frase que compactua e perpetua a violência contra a população lgbtqia+ – no caso em questão, os gays. O diretor se desculpou, mas é necessário ressaltar que o mais difícil de se combater está justamente nessas situações. Nas pequenas piadas, rotineiras, que quase todo mundo rir e poucos questionam até virar uma polêmica. E assim como a homofobia, o machismo deve parar de ser naturalizado. Ele, suas piadas, gracinhas e assédios que passam, por muitas vezes, despercebidos ou são taxados como mimimi.

O caminho é esse, mas é longo

Como destaquei no início do texto, o Corinthians profissionalizou suas atletas do futebol feminino e isso é um passo importante e gigantesco, mas também precisamos falar sobre o fato de ter levado 23 anos para acontecer. De certo, a impecável campanha das meninas na temporada passada deu fôlego para essa ação que já estava sendo pensada desde a retomada do projeto em 2016.

Percebam só, desde 2016 que há a vontade do clube de profissionalizar as meninas, mas – deixando de lado no debate alguma questão burocrática que possa ter adiado o processo – é fato que elas precisam provar, de alguma forma, a capacidade e se mostrarem tão boas – ou até melhores – do que os meninos do time profissional masculino para conseguirem essa conquistas.

E é um trabalho de formiguinha mesmo, aos poucos, torcendo pelo dia em que isso vai mudar e as coisas serão cada vez mais simétricas entre homens e mulheres, no futebol e no mundo. Até lá, que possamos comemorar cada vez mais vitórias das nossas meninas, dentro e fora de campo, através do clube que todos nós somos apaixonados e... Como de costume: vai, Corinthians!

Escrito e revisado por Beatriz de Alcântara

Siga a autora no Twitter: @beaborgess

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