Gaviões da Fiel e Paulo Barros: aposta de um carnaval histórico

Abre-alas da Gaviões da Fiel em 2018 (Foto: Ardilhes Moreira/G1)

Na madrugada desse sábado (22), teremos aquele momento do ano em que todo corinthiano vira Gaviões por um dia: é o desfile da escola de samba da maior torcida organizada do Timão! Esse ano, ela será a terceira a se apresentar, com início programado para as 0h40.

Trata-se de um desfile especial por muitos motivos. O mais importante: a Gaviões está completando 50 anos em 2020! Logo, é certo que é ano para, mais do que nunca, lutar de vez por esse título no Carnaval, que já não vem há alguns anos. Mas há um outro, que ajuda a nos dar esperanças de que que esse troféu desembarque por aqui, e ele tem nome e sobrenome: Paulo Barros.

Quem é Paulo Barros?

Carnavalesco sorri, durante ensaio da Gaviões da Fiel (Foto: Reprodução/SASP)

Carnavalesco de 57 anos, Paulo Barros construiu sua carreira no carnaval do Rio de Janeiro, por onde atua desde 1994. Já passou por várias escolas, quase sempre com bons resultados e desfiles diferenciados. É conhecido nacionalmente pelo uso de tecnologia e efeitos especiais nos desfiles: já usou de acrobacias com motociclistas, zumbis perdendo cabeças e até um Batman voador, para ficar em alguns exemplos.

Por conta disso, sua carreira é altamente vencedora: Paulo Barros tem cinco títulos e seis vices no carnaval do Rio de Janeiro. Desses, quatro títulos e quatro vices foram no Grupo Especial, em um intervalo de apenas 16 anos:

2004: vice-campeão na Unidos da Tijuca
2005: vice-campeão na Unidos da Tijuca
2010: campeão na Unidos da Tijuca
2011: vice-campeão na Unidos da Tijuca
2012: campeão na Unidos da Tijuca
2014: campeão na Unidos da Tijuca
2017: campeão na Portela
2019: vice-campeão na Viradouro

Agora, pela primeira vez, ele vai se aventurar no carnaval de São Paulo. Em entrevistas, Paulo Barros revelou que ficou feliz com o carinho do público e animado com o resultado do trabalho realizado. Durante toda a preparação, ele veio à cidade por dois dias na semana, supervisionar o trabalho da equipe.

Ainda segundo ele, em entrevista para o UOL, o maior desafio foi se adaptar às regras da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, mais rígidas que as do Rio: "Em São Paulo o regulamento é muito particular. Algumas pessoas dizem que é 'amarrado'. Tivemos que estudar os quesitos para encaixar o nosso trabalho e preparar um desfile com coisas diferentes do que estamos acostumados fazer", disse.

Mesmo assim a promessa é de um desfile inovador, como nunca se viu na história da escola, mas grandioso como a Gaviões sempre fez. Serão três mil integrantes, distribuídos em 23 alas e cinco carros alegóricos, com a já tradicionalíssima Sabrina Sato à frente da bateria!

E o samba-enredo?

 

Para comemorar na avenida os 50 anos da Gaviões, nada mais justo do que falar daquilo que move todos os corinthianos a serem fiéis ao Timão: o amor. No título do samba-enredo, uma referência indireta a esse sentimento, extraída de um soneto do poeta português Luís de Camões: "Um Não Sei Que, Que Nasce Não Sei Onde, Vem Não Sei Como e Explode Não Sei Porquê".

A proposta, de um modo geral, é de levar à passarela casos de amor sem fim que arrebatam e arrastam multidões, loucas paixões eternizadas pela história, sonhos de liberdade que uniram homens e mulheres na luta por seus ideais e amigos ou amantes que enfrentaram qualquer perigo para viverem lado a lado de quem gostavam. A letra, fácil de decorar e cantar, ganha vida na voz do nosso intérprete Ernesto Teixeira, e com certeza o coro "Canta, Gaviões!" vai ganhar a avenida!

Confira abaixo a letra completa:

Vai arrepiar, abra o seu coração
Vem se apaixonar, explodir de emoção
Um sentimento que arrasta multidões
Canta, Gaviões! [2x]

O que é esse aperto no peito?
Invade a alma, não dá pra negar
É a mais sublime inspiração do criador
Que um sonho em suas mãos moldou
É o amor, é o amor

Eu quero viver romances proibidos
Doce delírio que desperta os sentidos
Quando dispara, o insensato coração
Se a alma eternizar
Vai muito além da razão

Quantos sentimentos me levam
À luta por um ideal
Chama que ninguém pode apagar
É a liberdade de poder sonhar [2x]

É, não existem fronteiras
Nem mesmo barreiras vão nos separar
Se a vida imita a arte
Numa doce ilusão vou mergulhar

Eu sou o olhar que te encontra pelas ruas
Um acorde que seduz à luz da Lua
Sou o canto que ecoa pelo ar
E se eu enlouquecer
Será de tanto amar

Vai arrepiar, abra o seu coração
Vem se apaixonar, explodir de emoção
Um sentimento que arrasta multidões
Canta, Gaviões! [2x]

A Gaviões da Fiel no Carnaval

Em 1995, a Gaviões foi campeã pela primeira vez do Carnaval de SP (Foto: Reprodução)

Muitos não sabem, mas nem sempre a Gaviões foi escola de samba. Fundada em 1969, ela começou a desfilar apenas em 1976, mas como bloco especial. Em 13 anos assim, foram 12 títulos: entre 1976 e 1979 e entre 1981 e 1988.

Então, em 1989, a Gaviões passou a desfilar como escola de samba, e logo na estreia foi vice-campeã do Grupo de Acesso, subindo à elite. Mas não foi tão bem em 1990, ficando apenas em 9º lugar e voltando ao acesso. Lá, ganhou em 1991 seu primeiro título como escola de samba.

De volta ao Grupo Especial, a Gaviões fez bons desfiles em sequência, culminando no desfile histórico de 1995, quando conquistou seu primeiro título, com o enredo "Coisa Boa é Pra Sempre". O ótimo desempenho continuaria nos anos seguintes: em 1999, o segundo título; em 2000, um vice-campeonato; em 2002, o terceiro título e em 2003 o quarto!

Entre 2004 e 2008, a escola passou pelo momento mais turbulento da sua história. Problemas nos desfiles de 2004 e 2006 fizeram com que a Gaviões perdesse muitos pontos e fosse rebaixada para o Grupo de Acesso, do qual a agremiação saiu conquistando o título, tanto em 2005 quanto em 2007. Neste último retorno, um desfile que prometia ser triunfal, mas que não caiu no gosto dos juízes e amargou um 11º lugar.

Desde então, a Gaviões nunca mais conquistou um título do Carnaval de São Paulo, tendo como melhor resultado um 4º lugar em 2009. Nos últimos oito anos, apenas uma vez (2016) a escola esteve acima do 9º lugar, o que vem sendo interpretado por muitos como uma espécie de "má-vontade" dos juízes na avaliação da escola.

Bom, sendo verdade ou não, esse ano teremos uma oportunidade de ouro para saber se, afinal, a Gaviões virou uma escola marcada no Carnaval ou se ainda teremos chance de gritar o pentacampeonato corinthiano na avenida!

Escrito por Daniel Keppler e Victor Consoli, revisado por Daniel Keppler

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