ÚLTIMAS

12 de janeiro de 2020

Mundial de Clubes Feminino da FIFA: a história da sua (não) existência

Corinthians e Lyon, campeões da América do Sul e Europa no feminino
Corinthians e Lyon (BRA) são os atuais campeões continentais da Conmebol e UEFA no futebol feminino (Foto: montagem)
Dentro de algumas semanas, o Corinthians Feminino volta a campo para uma nova temporada, onde terá vários torneios a disputar, como o Campeonato Brasileiro, o Campeonato Paulista e a Copa Libertadores.

Mas, na teoria, a equipe de Arthur Elias teria um quarto torneio a disputar, nessa lista. Aquele, que deveria ser o mais importante, que coloca frente a frente os melhores de cada continente. SIM, o Mundial de Clubes!

Uma história (não tão) antiga

Pois é. Apesar de todo o crescimento da modalidade nos últimos anos, até hoje a FIFA ainda não organizou um torneio interclubes, como o que realiza no masculino desde 2000. Mas isso não significa que ela não tentou; na verdade, não só tentou como chegou a marcar a data e local da primeira edição: a data seria março ou abril de 2010, e o local seria a cidade de Santos. Sim, o Brasil também seria a sede inaugural do Mundial de Clubes das mulheres.

Site Santos notícia 13/3/2009
Essa escolha tinha uma razão e um forte responsável: o então presidente do Santos FC, Marcelo Teixeira. Na época, o mandatário era membro da Comissão Organizadora do Mundial de Clubes Masculino da FIFA, e também respondia pelo clube que talvez fosse o melhor do país na modalidade feminina, na época - somente entre 2006 e 2008, as santistas venceram três Jogos Regionais, um Paulista e uma Copa do Brasil.

Assim, provavelmente visando unir o útil ao agradável, o dirigente propôs, em março de 2009, que a FIFA criasse um torneio mundial de clubes para as mulheres (à direita, recorte do site do Santos). Na mesma reunião, começaram as discussões para a criação, também, da Copa Libertadores Feminina, a fim de indicar o representante do continente para o torneio.

O Santos, que seria o representante brasileiro no torneio, se mexeu: trouxe por empréstimo estrelas mundiais como Cristiane e ela, Marta, uma das melhores jogadoras da história. Claro que deu 100% certo: na competição da Conmebol, em outubro, disputada em Santos e São Paulo, a equipe venceu todos os jogos que disputou e foi campeã com sobras.

Menos de duas semanas depois, a Comissão de Futebol Feminino da FIFA se reuniu na Suíça e bateu o martelo: seria criada a I Copa do Mundo Feminina de Clubes, e ela ocorreria em março ou abril de 2010, na cidade de Santos. As confederações continentais tinham até janeiro para indicar seus representantes para o torneio, sendo que por parte da UEFA o provável indicado seria o Turbine Potsdam (ALE), campeão da UEFA Women's Cup 2008-09.

Mas, por alguma razão, o projeto não andou. É escasso o material na Internet sobre o motivo do cancelamento, mas é possível afirmar que, em dezembro de 2009, o torneio ainda estava de pé (conforme afirma essa matéria).

O Torneio Internacional de 2011

Com isso, foi criado em janeiro de 2011 um torneio inspirado no Mundial de Clubes, mas sem seu status: o Torneio Internacional Interclubes de Futebol Feminino. O torneio, autorizado pela CBF e organizado pela FPF em parceria com a empresa Sport Promotion, foi um quadrangular jogado em Araraquara entre três equipes brasileiras (Santos, Palmeiras e Foz Cataratas) e uma da Suécia, o Umea IK (clube que Marta já havia defendido por três anos). Após quatro jogos, as santistas venceram a competição.

A era do IWCC

No ano seguinte, um novo personagem entrou nessa história: Taguchi Yoshinori, na época presidente da Nadeshiko League (a elite japonesa do futebol feminino). Em outubro de 2012, ele anunciou a criação da International Women's Club Championship (IWCC). A proposta era simples e clara: organizar o torneio em parceria com a Federação Japonesa por três anos e, então, trabalhar para que ele fosse assumido pela FIFA e transformado em um legítimo Mundial de Clubes (abaixo, recorte do site da Federação Japonesa).
Lançamento do IWCC em 2012

IWCC 2012

Apenas um mês depois do anúncio, quatro times entravam em campo para a primeira edição do torneio:
  • INAC Kobe Leonessa (JAP): campeão da Nadeshiko League 2012
  • NTV Beleza (JAP): campeão da Nadeshiko League Cup 2012
  • Canberra United FC (AUS): campeão da W-League 2011-12)
  • Lyon (FRA): campeão da UEFA Women's Champions League 2011-12
Após um mata-mata simples, as francesas fizeram valer o favoritismo e se sagraram campeãs da primeira IWCC!

IWCC 2013

Na segunda edição, já tivemos a América do Sul representada. Ao todo foram cinco equipes na competição:
  • INAC Kobe Leonessa (JAP): campeão da Nadeshiko League e da Nadeshiko League Cup 2013
  • NTV Beleza (JAP): vice-campeão da Nadeshiko League 2013 
  • Sydney FC (AUS): campeão da W-League 2012-13
  • Colo Colo (CHI): campeão da Copa Libertadores 2012
  • Chelsea (ING): convidado para representar a UEFA
O Wolfsburg (ALE), campeão europeu de 2012-13, teria sido convidado, mas aparentemente declinou do convite. Além disso houve tentativas de trazer uma equipe da NWSL, a liga dos EUA, mas sem sucesso. No torneio, as japonesas do INAC Kobe Leonessa surpreenderam, vencendo o Chelsea na final e deixando o troféu da IWCC em casa.

IWCC 2014

Em 2014, foi a vez do Brasil estrear na competição, que ganhou mais uma equipe, totalizando seis:
  • Okayama Yunogo Belles (JAP): campeão da Nadeshiko League - Regular Series 2014
  • Urawa Red Diamonds (JAP): campeão da Nadeshiko League - Exciting Series 2014
  • Jiangsu Huatai (CHN): campeão do IWCC Qualifying Tournament
  • Melbourne Victory (AUS): campeão da W-League 2013-14
  • São José (BRA): campeão da Copa Libertadores 2013
  • Arsenal Ladies (ING): campeão da FA Women's Cup 2013-14
As inglesas foram convidadas a representar a UEFA no lugar do Wolfsburg, novamente campeão europeu e que novamente rejeitou participar do torneio. Após duas partidas, as brasileiras chegaram à final e, derrotando o Arsenal, conquistaram o IWCC!


E a FIFA, afinal?

Após os três anos de torneio, a IWCC passou a negociar com a FIFA para que a entidade desse seu endosso às edições seguintes, tornando-as oficialmente um Mundial de Clubes. Haveria brasileiras na edição de 2015: o São José, que havia vencido a Libertadores de 2014. Mas as conversas não avançaram e, em setembro, a direção do IWCC anunciou o cancelamento do torneio de 2015 (abaixo, recorte do Globo Esporte.com); ele nunca mais foi realizado.
Globo Esporte.com de 17/9/2015
Antes disso, ainda em 2013, houve outra tentativa de criação de um torneio, também envolvendo o São José. Na proposta, haveria apenas um confronto entre a equipe brasileira e a campeã europeia (as alemãs do Wolfsburg), em jogo único no Japão ou em dois jogos (um na Alemanha e um no Brasil). No entanto, como a proposta não saiu do papel, coube às paulistas disputarem mesmo o IWCC de 2014.

Os anos passaram e o assunto pareceu morrer para a FIFA. Apenas em maio de 2017, durante seu congresso no Bahrein, a entidade volta a se manifestar sobre o tema, através de um comentário de Emily Shaw, head de governança e liderança de futebol feminino da FIFA. Ela afasta a possibilidade de criação do torneio, por considerar a ideia "prematura".

Cenário atual e um sonho possível

Após o imenso sucesso da Copa do Mundo de seleções, em 2018, o futebol feminino sobe de nível na visão de muitos torcedores, e também da FIFA. Através de seu presidente Gianni Infantino, durante conferência em setembro, a entidade divulga um metas ambiciosas para desenvolver a modalidade no mundo, incluindo investimentos de até US$ 1 bilhão em cinco anos e a criação de um Mundial de Clubes em um futuro próximo - para 2020 ou 2021, segundo ele. Não tivemos novidades ainda, então talvez esse ano não role...

A última manifestação de fato da FIFA, sobre o assunto, é recente: após o Corinthians conquistar o bicampeonato da Libertadores, houve um forte apelo nas redes sociais, por parte de torcedores alvinegros, para que fosse organizada uma disputa entre a equipe e o Lyon (FRA), atual campeão europeu. Na onda da Internet, a ESPN entrou em contato com a FIFA, que apesar de não citar datas, confirmou que faz parte dos planos da entidade a criação do torneio.

Mas, aqui nós gostamos de refletir, vocês sabem. E por isso, fixemos aqui um exercício para saber: como seria um Mundial de Clubes Feminino esse ano?

Mundial de Clubes Feminino 2020: como seria?

Baseado no que foi a IWCC e, considerando que a FIFA talvez optasse por, neste início, não fazer com o torneio feminino o que fez com o masculino (a ampliação e a transformação em quadrienal), podemos imaginar uma competição simples, com seis times representando seis continentes, num torneio mata-mata de tiro curto.

Temos, porém, um impasse: hoje, apenas três confederações tem campeões continentais: a UEFA, a Conmebol, e a AFC, que inaugurou sua competição ano passado. Os seus campeões vigentes são:
  • Lyon (FRA)
  • Corinthians (BRA)
  • Nippon TV Beleza (JAP)
Sendo assim, três confederações teriam que ter seus representantes indicados por outro critério: a CAF, a Concacaf e a OFC. E nós pensamos em um: escolher o campeão nacional do país melhor qualificado, de cada uma dessas confederações, no Ranking Feminino de Seleções da FIFA. Na última atualização, estes países eram respectivamente: Nigéria (39º lugar), EUA (1º lugar) e Nova Zelândia (23º), o que nos leva aos seguintes clubes:
  • Rivers Angels (NIG)
  • North Carolina Courage (EUA)
  • Canterbury United Pride (NZL)
Montagem - Mundial Feminino de Clubes

O formato não é difícil imaginar: Corinthians e Lyon pré-classificados às semifinais, e os outros quatro times disputando as outras duas vagas em um mata-mata preliminar. Como foi o torneio masculino em 2005 e 2006 a propósito.

Como sede, imaginamos o Brasil. Seria uma forma de "compensar" o país pela perda do torneio em 2010, e uma garantia de pelo menos três bons públicos - afinal o Corinthians está em alta entre a torcida, e conseguiria garantir, pensamos nós, pelo menos 25 mil torcedores nas suas partidas. O jogo do Lyon na semifinal também teria boa assistência, acreditamos.

E você, o que acha? Um Mundial de Clubes seria viável dessa forma, já esse ano? Ou a FIFA está correta em deixar a criação do torneio em segundo plano? Deixe seu comentário!

Escrito e revisado por Daniel Keppler 

Siga o autor no Twitter: @daniel_keppler

Nenhum comentário:

Postar um comentário