Corinthianos comemoram vitória sobre o Vasco (Foto: Getty) |
Por JOHNNI FLÁVIO BRASILINO ALVES, ADVOGADO E CORINTHIANO
Não se constrói um amor em uma rodovia.
Quem, em um feito épico, conseguiu chegar no Maracanã naquela noite de janeiro de 2000, e ficou na lateral do campo, em barulho ensurdecedor daquela massa ensandecida de paixão e orgulho, não consegue esquecer.
É certo que o Corinthians tem sua própria população, língua, costumes, moeda. É uma república. Não nasceu à toa de um grupo de operários, que jamais imaginavam se tornar o maior clube do Brasil. Nem que seus gestos se tornassem a expressão literal de liberdade, alegria e porque não, sofrimento também (claro que minha filha de 20 anos e 20 títulos nem sabe o que era ir no Pacaembu em 1986 e assistir aquele time sofrível jogar. Enfim).
Aquele dia do primeiro título mundial, trazia um ingrediente especial: Roy Keane.
Esse herói irlandês, que fez “o primeiro gol do Timão no Mundial”, só que pelo Manchester United, lá naquela final da Copa Intercontinental de novembro de 1999 contra o nosso maior rival, era o prefácio da epopéia alvinegra naquela noite de sexta-feira.
Não pensem por um minuto sequer, que as ofensas e contestações dos adversários sobre aquela conquista nos atinge. Ao contrário, nos fortalece. Estávamos lá por ter sido o campeão nacional do país sede. Ponto final. Não se fala mais nisso.
Voltando as minhas lembranças para a noite inesquecível, lembro que na entrada do estádio já éramos maioria, - ao menos no otimismo e vibração -, e a organização do torneio subestimou a nossa capacidade de invasão quando reservou um espaço modesto para tantos enamorados.
O adversário tinha um timaço. Corríamos um sério risco dentro de campo. Fora, jamais.
Romário, Edmundo, Juninho, Mauro Galvão, Felipe, Gilberto e outros coadjuvantes que faziam a constelação daquele time. O problema maior, foi achar que jogavam em casa. Estavam equivocados.
Do nosso lado, Marcelinho, Edílson, Luizão, Ricardinho, Rincón, Kleber, Adílson, Dida...
Talvez com tantas estrelas, seria necessário que houvesse muitos gols dos dois lados. Empate. Sem gols. Pênaltis. Edmundo cabeça baixa. Dida frio como um esquimó, contrastando com nós, abaixo do anel superior, onde só pensávamos em duas coisas: éramos os donos do mundo no futebol e o que estava passando na cabeça do arqui-rival da região oeste da nossa cidade.
Lembro de pegar o telefone e ligar imediatamente para o Bio, meu pai (o maior corinthiano que conheci), que com seu sorriso franco do outro lado, me disse que aquilo era para sempre. A propósito: te amo pai e obrigado pelo time que me deu.
O Corinthians não é um time qualquer. Se é que pode ser chamado de time. É uma esperança de dias melhores. De superar a precariedade humana e ter felicidade em dias de jogo. Sem resultado. Só o jogo. Só a camisa.
Ronaldo; Zé Maria, Domingos da Guia, Gamarra e Wladimir; Luizinho, Sócrates e Rivellino; Cláudio, Baltazar e Marcelinho. Essa seria para mim, a maior seleção da história, porque na verdade, só cabem onze.
Todos que envergaram aquela camisa (como eu nas categorias de base), jamais continuaram sendo o que eram.
São centenas de heróis dentro e milhões fora. Todos se confundem. Todos têm a ousadia de se apropriar dessa nação.
O time do povo. O clube das diretas. O time de operários, o escrete que irrita profundamente quem não sabe o que é esta paixão.
Vivemos dias difíceis, onde a poesia está engavetada e a estupidez está no poder, e homens fora do contexto e longe da pátria, estão à uma caneta de cometer desatinos.
Tempos que acabaram com as cantorias, e calados, suportamos a estupidez diária do usurpador da cadeira. Acho que curtimos apenas uma vez: quando ele envergou a camisa do rival. Que dupla.
Ser corinthiano, também, é uma luta de classes.
Mas agora, vinte anos depois, ficou uma grande lição do primeiro título mundial: eles vão ter que nos aguentar para sempre. Se já éramos chatos, agora somos quase insuportáveis.
O 4º centenário em 1954; o paulista de 1977; o bi paulista de 82/83; o brasileiro de 1990; a Libertadores de 2012; o tri-paulista de 17/18/19.... 30 paulistas, 07 brasileiros (no campo), 03 copas do Brasil...
Achou que me esqueceria do mundial de 2012? Óbvio que não. Tenho na minha lembrança o gol do Guerrero no lado que eu estava. Que noite delirante no Japão. Me senti no velho Pacaembu.
Qual título foi mais importante? Os dois, indubitavelmente.
Cássio; Alessandro, Chicão, Adílson e Kléber; Rincón, Paulinho e Edílson; Marcelinho, Guerrero e Émerson. Que belo time.
Mas o título de 2000, traz a marca do início de um milênio com cara de Corinthians: democrático, popular, guerreiro, livre e sul-americano até a espinha. O Corinthians, de fato, não é um time que tem uma torcida, mas uma torcida que tem um time!
“Chegando em casa de carro, já no dia 15 por volta das 05h30m, havia estrelas visíveis no céu de São Paulo”
Quem, em um feito épico, conseguiu chegar no Maracanã naquela noite de janeiro de 2000, e ficou na lateral do campo, em barulho ensurdecedor daquela massa ensandecida de paixão e orgulho, não consegue esquecer.
É certo que o Corinthians tem sua própria população, língua, costumes, moeda. É uma república. Não nasceu à toa de um grupo de operários, que jamais imaginavam se tornar o maior clube do Brasil. Nem que seus gestos se tornassem a expressão literal de liberdade, alegria e porque não, sofrimento também (claro que minha filha de 20 anos e 20 títulos nem sabe o que era ir no Pacaembu em 1986 e assistir aquele time sofrível jogar. Enfim).
Aquele dia do primeiro título mundial, trazia um ingrediente especial: Roy Keane.
Esse herói irlandês, que fez “o primeiro gol do Timão no Mundial”, só que pelo Manchester United, lá naquela final da Copa Intercontinental de novembro de 1999 contra o nosso maior rival, era o prefácio da epopéia alvinegra naquela noite de sexta-feira.
Não pensem por um minuto sequer, que as ofensas e contestações dos adversários sobre aquela conquista nos atinge. Ao contrário, nos fortalece. Estávamos lá por ter sido o campeão nacional do país sede. Ponto final. Não se fala mais nisso.
Voltando as minhas lembranças para a noite inesquecível, lembro que na entrada do estádio já éramos maioria, - ao menos no otimismo e vibração -, e a organização do torneio subestimou a nossa capacidade de invasão quando reservou um espaço modesto para tantos enamorados.
O adversário tinha um timaço. Corríamos um sério risco dentro de campo. Fora, jamais.
Romário, Edmundo, Juninho, Mauro Galvão, Felipe, Gilberto e outros coadjuvantes que faziam a constelação daquele time. O problema maior, foi achar que jogavam em casa. Estavam equivocados.
Do nosso lado, Marcelinho, Edílson, Luizão, Ricardinho, Rincón, Kleber, Adílson, Dida...
Talvez com tantas estrelas, seria necessário que houvesse muitos gols dos dois lados. Empate. Sem gols. Pênaltis. Edmundo cabeça baixa. Dida frio como um esquimó, contrastando com nós, abaixo do anel superior, onde só pensávamos em duas coisas: éramos os donos do mundo no futebol e o que estava passando na cabeça do arqui-rival da região oeste da nossa cidade.
Meu pai (Foto: arquivo pessoal) |
O Corinthians não é um time qualquer. Se é que pode ser chamado de time. É uma esperança de dias melhores. De superar a precariedade humana e ter felicidade em dias de jogo. Sem resultado. Só o jogo. Só a camisa.
Ronaldo; Zé Maria, Domingos da Guia, Gamarra e Wladimir; Luizinho, Sócrates e Rivellino; Cláudio, Baltazar e Marcelinho. Essa seria para mim, a maior seleção da história, porque na verdade, só cabem onze.
Todos que envergaram aquela camisa (como eu nas categorias de base), jamais continuaram sendo o que eram.
São centenas de heróis dentro e milhões fora. Todos se confundem. Todos têm a ousadia de se apropriar dessa nação.
O time do povo. O clube das diretas. O time de operários, o escrete que irrita profundamente quem não sabe o que é esta paixão.
Vivemos dias difíceis, onde a poesia está engavetada e a estupidez está no poder, e homens fora do contexto e longe da pátria, estão à uma caneta de cometer desatinos.
Tempos que acabaram com as cantorias, e calados, suportamos a estupidez diária do usurpador da cadeira. Acho que curtimos apenas uma vez: quando ele envergou a camisa do rival. Que dupla.
Ser corinthiano, também, é uma luta de classes.
Mas agora, vinte anos depois, ficou uma grande lição do primeiro título mundial: eles vão ter que nos aguentar para sempre. Se já éramos chatos, agora somos quase insuportáveis.
O 4º centenário em 1954; o paulista de 1977; o bi paulista de 82/83; o brasileiro de 1990; a Libertadores de 2012; o tri-paulista de 17/18/19.... 30 paulistas, 07 brasileiros (no campo), 03 copas do Brasil...
Achou que me esqueceria do mundial de 2012? Óbvio que não. Tenho na minha lembrança o gol do Guerrero no lado que eu estava. Que noite delirante no Japão. Me senti no velho Pacaembu.
Qual título foi mais importante? Os dois, indubitavelmente.
Cássio; Alessandro, Chicão, Adílson e Kléber; Rincón, Paulinho e Edílson; Marcelinho, Guerrero e Émerson. Que belo time.
Mas o título de 2000, traz a marca do início de um milênio com cara de Corinthians: democrático, popular, guerreiro, livre e sul-americano até a espinha. O Corinthians, de fato, não é um time que tem uma torcida, mas uma torcida que tem um time!
“Chegando em casa de carro, já no dia 15 por volta das 05h30m, havia estrelas visíveis no céu de São Paulo”
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