A equipe do Corinthians que chegaria à decisão do Mundial de Clubes da FIFA 2000, aos olhos do ilustrador Eric Baket |
Para comemorar as duas décadas desse torneio tão icônico, nós do Corinthians 247 promoveremos uma série de textos nos próximos dias, contando a história dessa competição por vários ângulos diferentes! E nesse primeiro texto, vamos viajar um pouco no tempo, para contar os bastidores por trás da criação do torneio por parte da FIFA.
Pois é, o Mundial de 2000 não foi um torneio criado às pressas ou de qualquer jeito. Muito pelo contrário! Vamos começar?
Um interesse secular
A FIFA não criou o Mundial de 2000 por um impulso. Na verdade, o interesse por criar uma competição interclubes existia, na FIFA, praticamente desde sua criação, mas tais ideias não avançaram naquele momento, e a entidade se voltou às seleções, primeiro com o torneio de futebol das Olimpíadas, em 1908, e depois com a Copa do Mundo, em 1930.Na década de 1950, porém, os clubes voltam à pauta, ainda que de forma indireta: dirigentes importantes da FIFA começam a atuar, pessoalmente, promovendo campeonatos como a Copa Rio de 1951, no Brasil. Ottorino Barassi, por exemplo, ficou a cargo de trazer equipes da Europa para o torneio. Já Stanley Rous, então presidente da entidade, aprovou seu formato e a iniciativa, ainda que tenha deixado claro que o torneio não era "submetido à FIFA", e portanto, de responsabilidade exclusiva da CBD, e portanto não sendo um Mundial de Clubes propriamente dito.
Os vetos europeus e sulamericanos
Mas, se a FIFA gostava tanto da ideia de um Mundial de Clubes, por que não criou o seu?Pois é, ela quis. Só entre 1962 e 1970 foram três propostas oficiais para criar a competição, mas todas foram vetadas, tanto pela Conmebol quanto (e principalmeite) pela UEFA. A de 1962 é citada no jornal espanhol Mundo Deportivo de 10/4/1975 (recorte 1, abaixo). Já a de 1970 é notícia nesse mesmo jornal em 24/4/1970 (recorte 2) e, antes disso, no Jornal do Brasil em 23/1/1970 (recorte 3).
A proposta de 1967 parte do próprio Stanley Rous, como reação a críticas feitas pela imprensa, naquele ano, por conta dos jogos da Copa Intercontinental entre Racing (ARG) e Celtic (ESC), nos quais a violência foi generalizada. Na época, ele afirmou que não havia o que fazer, pois a FIFA não reconhecia o torneio como Mundial, e que isso só seria possível se o mesmo fosse ampliado às outras federações.
Na década seguinte, a de 1970, o desinteresse dos europeus pela Copa Intercontinental atingiu seu ápice. Nada menos que sete dos 10 campeões daquele continente simplesmente abriram mão de jogar com o campeão sulamericano. E isso motivou mais tentativas de criar um Mundial de Clubes. Uma dessas propostas veio do jornal francês L'Équipe, que sugeriu uma "Copa do Mundo de Clubes" em Paris, entre setembro e outubro de 1974. Uma ideia que foi bem aceita por dirigentes sulamericanos, mas (adivinhem!) rejeitada pelos europeus, e por isso também fracassou.
Em 1975 o tema volta à tona, novamente através da FIFA, provocado pelo (já citado) crescente desinteresse dos europeus pela Copa Intercontinental. A entidade mundial esperava contar com o apoio dos sulamericanos para o projeto, mas nada saiu do papel mais uma vez.
A década de 1980 é de poucas manifestações da FIFA sobre o tema, mas não deixam de surgir propostas: em 1983, a Inglaterra planeja propor um Mundial de Clubes para 1985, mas desiste. Já em 1984, a Argentina sugere a realização de um torneio do tipo em 1987, mas a FIFA decide não se envolver.
Enfim, sucesso!
Somente na década de 1990 a FIFA volta a investir no seu projeto. Dessa vez, de forma firme e decidida, ela enfrenta a oposição europeia - que ainda existia e bate o pé: propõe o torneio em 1993, consegue sua aprovação no Comitê Executivo em 1996 e anuncia sua criação em 1997 (à direita, em recorte do Jornal da Tarde de 24/7/1997).Mas ainda faltava muito o que discutir: o primeiro esboço previa um torneio bianual, cuja primeira edição seria em julho de 1999. Meses depois, porém, já ocorrem mudanças: o torneio ainda começaria em 1999, mas passaria a ser anual, e no início do ano.
Perceberam que, desde 1997, os critérios para todas as oito vagas do torneio estavam definidas, e não mudaram desde o primeiro esboço? Seis campeões continentais, mais o campeão vigente da Copa Toyota e... o campeão nacional do país sede. Pois é. Enfim.
Mas a UEFA seguia contra. Chegou a falar em não enviar seu campeão para a disputa. Esse impasse, entre outros, atrasou o torneio. Mas a FIFA se impôs e, ao invés de cancelar o projeto, confirmou a I Copa do Mundo de Clubes para janeiro de 2000, tendo o Brasil como sede.
Manchete do Mundo Deportivo de 8/6/1999, anunciando o Brasil como sede do Mundial de Clubes 2000 |
Os participantes
A escolha dos times que participariam do torneio ficou por conta das confederações continentais. E devido ao adiamento do Mundial de 1999 para 2000, os critérios não foram exatamente uniformes entre elas. A AFC, por exemplo, optou por manter a escolha do campeão da sua Supercopa de 1998, o Al-Nassr (ARA). Já a Conmebol anunciou em 14 de junho de 1999 que indicaria o Vasco, campeão da Libertadores, para o torneio - decisão polêmica, pois foi feita doisdias antes da decisão do torneio seguinte, entre Palmeiras e Deportivo Cali (COL).Já a CBF, responsável por indicar o representante brasileiro, optou por seguir o critério da Conmebol para o time sulamericano, e indicou o Corinthians como time anfitrião em 15 de junho de 1999. Outro motivo dado pela entidade foi que o campeão de 1999 seria definido muito perto do início do torneio, o que traria prejuízo à preparação do clube. Mas, ironia ou não, quem acabou vencendo o Brasileirão em 1999 também foi o Corinthians - ou seja, deu na mesma!
A essa altura, dois times europeus também estavam com o passaporte carimbado para o Brasil: o Manchester United (ING), ao vencer a Liga dos Campeões da UEFA em 26 de maio, e o Real Madrid (ESP), campeão da Copa Toyota de 1998, que confirmou sua participação.
O South Melbourne (AUS) também se garantiu no torneio, ao vencer o Campeonato de Clubes da OFC em 26 de setembro. Já o Necaxa (MEX), ao levar a Copa dos Campeões da Concacaf em 3 de outubro. E então, no 14 do mesmo mês, foi realizado o sorteio dos grupos, em um evento cheio de personalidades do futebol e transmitido para praticamente o mundo inteiro.
Sentiu falta de um clube? É o Raja Casablanca (MAR), que só conquistou sua vaga ao vencer a Liga dos Campeões da CAF, em 12 de dezembro - três semanas antes do Mundial!
A abertura
E então, às 18h45 de uma quarta-feira em 5 de janeiro de 2000, entravam em campo Real Madrid e Al-Nassr, em um Morumbi esvaziado, para abrir o torneio! O primeiro gol da competição foi marcado por Anelka, aos 21 minutos. Al Husseini empatou para os árabes ainda no primeiro tempo, mas Raúl e Sávio definiram no segundo tempo a vitória por 3x1 para o Real.E na segunda partida da rodada, às 21h15, o Corinthians entrou em campo para enfrentar o Raja Casablanca, campeão africano. O jogo foi nervoso e os gols só saíram no segundo tempo: Luizão aos 5 e Fácio Luciano aos 19, para definir o placar: 2x0 para o Timão!
E aí, curtiram? Nos próximos dias vamos relembrar mais detalhes do torneio!
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