ÚLTIMAS

6 de janeiro de 2020

Especial 20 anos do Mundial - Parte 1: a história por trás do torneio

Ilustração do Corinthians campeão mundial de 2000, por Eric Baket
A equipe do Corinthians que chegaria à decisão do Mundial de Clubes da FIFA 2000, aos olhos do ilustrador Eric Baket
Neste último domingo (5), uma evento muito especial na história do futebol (e do Corinthians) fez aniversário: há 20 anos, ocorria em São Paulo a abertura da I Copa do Mundo de Clubes da FIFA. Foi o torneio que, pela primeira vez, colocou frente a frente campeões continentais de todo o mundo, sob o aval da única entidade que poderia outorgar a um time o status de melhor do planeta!

Para comemorar as duas décadas desse torneio tão icônico, nós do Corinthians 247 promoveremos uma série de textos nos próximos dias, contando a história dessa competição por vários ângulos diferentes! E nesse primeiro texto, vamos viajar um pouco no tempo, para contar os bastidores por trás da criação do torneio por parte da FIFA.

Pois é, o Mundial de 2000 não foi um torneio criado às pressas ou de qualquer jeito. Muito pelo contrário! Vamos começar?

Um interesse secular

A FIFA não criou o Mundial de 2000 por um impulso. Na verdade, o interesse por criar uma competição interclubes existia, na FIFA, praticamente desde sua criação, mas tais ideias não avançaram naquele momento, e a entidade se voltou às seleções, primeiro com o torneio de futebol das Olimpíadas, em 1908, e depois com a Copa do Mundo, em 1930.

Na década de 1950, porém, os clubes voltam à pauta, ainda que de forma indireta: dirigentes importantes da FIFA começam a atuar, pessoalmente, promovendo campeonatos como a Copa Rio de 1951, no Brasil. Ottorino Barassi, por exemplo, ficou a cargo de trazer equipes da Europa para o torneio. Já Stanley Rous, então presidente da entidade, aprovou seu formato e a iniciativa, ainda que tenha deixado claro que o torneio não era "submetido à FIFA", e portanto, de responsabilidade exclusiva da CBD, e portanto não sendo um Mundial de Clubes propriamente dito.

Os vetos europeus e sulamericanos

Mas, se a FIFA gostava tanto da ideia de um Mundial de Clubes, por que não criou o seu?

Pois é, ela quis. Só entre 1962 e 1970 foram três propostas oficiais para criar a competição, mas todas foram vetadas, tanto pela Conmebol quanto (e principalmeite) pela UEFA. A de 1962 é citada no jornal espanhol Mundo Deportivo de 10/4/1975 (recorte 1, abaixo). Já a de 1970 é notícia nesse mesmo jornal em 24/4/1970 (recorte 2) e, antes disso, no Jornal do Brasil em 23/1/1970 (recorte 3).

Recortes de jornais diversos
A proposta de 1967 parte do próprio Stanley Rous, como reação a críticas feitas pela imprensa, naquele ano, por conta dos jogos da Copa Intercontinental entre Racing (ARG) e Celtic (ESC), nos quais a violência foi generalizada. Na época, ele afirmou que não havia o que fazer, pois a FIFA não reconhecia o torneio como Mundial, e que isso só seria possível se o mesmo fosse ampliado às outras federações.

Na década seguinte, a de 1970, o desinteresse dos europeus pela Copa Intercontinental atingiu seu ápice. Nada menos que sete dos 10 campeões daquele continente simplesmente abriram mão de jogar com o campeão sulamericano. E isso motivou mais tentativas de criar um Mundial de Clubes. Uma dessas propostas veio do jornal francês L'Équipe, que sugeriu uma "Copa do Mundo de Clubes" em Paris, entre setembro e outubro de 1974. Uma ideia que foi bem aceita por dirigentes sulamericanos, mas (adivinhem!) rejeitada pelos europeus, e por isso também fracassou.

Em 1975 o tema volta à tona, novamente através da FIFA, provocado pelo (já citado) crescente desinteresse dos europeus pela Copa Intercontinental. A entidade mundial esperava contar com o apoio dos sulamericanos para o projeto, mas nada saiu do papel mais uma vez.

A década de 1980 é de poucas manifestações da FIFA sobre o tema, mas não deixam de surgir propostas: em 1983, a Inglaterra planeja propor um Mundial de Clubes para 1985, mas desiste. Já em 1984, a Argentina sugere a realização de um torneio do tipo em 1987, mas a FIFA decide não se envolver.

Enfim, sucesso!

Jornal da Tarde 24/7/1997Somente na década de 1990 a FIFA volta a investir no seu projeto. Dessa vez, de forma firme e decidida, ela enfrenta a oposição europeia - que ainda existia e bate o pé: propõe o torneio em 1993, consegue sua aprovação no Comitê Executivo em 1996 e anuncia sua criação em 1997 (à direita, em recorte do Jornal da Tarde de 24/7/1997).

Mas ainda faltava muito o que discutir: o primeiro esboço previa um torneio bianual, cuja primeira edição seria em julho de 1999. Meses depois, porém, já ocorrem mudanças: o torneio ainda começaria em 1999, mas passaria a ser anual, e no início do ano.

Perceberam que, desde 1997, os critérios para todas as oito vagas do torneio estavam definidas, e não mudaram desde o primeiro esboço? Seis campeões continentais, mais o campeão vigente da Copa Toyota e... o campeão nacional do país sede. Pois é. Enfim.

Mas a UEFA seguia contra. Chegou a falar em não enviar seu campeão para a disputa. Esse impasse, entre outros, atrasou o torneio. Mas a FIFA se impôs e, ao invés de cancelar o projeto, confirmou a I Copa do Mundo de Clubes para janeiro de 2000, tendo o Brasil como sede.
Mundo Deportivo 8/6/1999
Manchete do Mundo Deportivo de 8/6/1999, anunciando o Brasil como sede do Mundial de Clubes 2000

Os participantes

A escolha dos times que participariam do torneio ficou por conta das confederações continentais. E devido ao adiamento do Mundial de 1999 para 2000, os critérios não foram exatamente uniformes entre elas. A AFC, por exemplo, optou por manter a escolha do campeão da sua Supercopa de 1998, o Al-Nassr (ARA). Já a Conmebol anunciou em 14 de junho de 1999 que indicaria o Vasco, campeão da Libertadores, para o torneio - decisão polêmica, pois foi feita doisdias antes da decisão do torneio seguinte, entre Palmeiras e Deportivo Cali (COL).

Já a CBF, responsável por indicar o representante brasileiro, optou por seguir o critério da Conmebol para o time sulamericano, e indicou o Corinthians como time anfitrião em 15 de junho de 1999. Outro motivo dado pela entidade foi que o campeão de 1999 seria definido muito perto do início do torneio, o que traria prejuízo à preparação do clube. Mas, ironia ou não, quem acabou vencendo o Brasileirão em 1999 também foi o Corinthians - ou seja, deu na mesma!

A essa altura, dois times europeus também estavam com o passaporte carimbado para o Brasil: o Manchester United (ING), ao vencer a Liga dos Campeões da UEFA em 26 de maio, e o Real Madrid (ESP), campeão da Copa Toyota de 1998, que confirmou sua participação.

O South Melbourne (AUS) também se garantiu no torneio, ao vencer o Campeonato de Clubes da OFC em 26 de setembro. Já o Necaxa (MEX), ao levar a Copa dos Campeões da Concacaf em 3 de outubro. E então, no 14 do mesmo mês, foi realizado o sorteio dos grupos, em um evento cheio de personalidades do futebol e transmitido para praticamente o mundo inteiro.


Sentiu falta de um clube? É o Raja Casablanca (MAR), que só conquistou sua vaga ao vencer a Liga dos Campeões da CAF, em 12 de dezembro - três semanas antes do Mundial!

A abertura

E então, às 18h45 de uma quarta-feira em 5 de janeiro de 2000, entravam em campo Real Madrid e Al-Nassr, em um Morumbi esvaziado, para abrir o torneio! O primeiro gol da competição foi marcado por Anelka, aos 21 minutos. Al Husseini empatou para os árabes ainda no primeiro tempo, mas Raúl e Sávio definiram no segundo tempo a vitória por 3x1 para o Real.


E na segunda partida da rodada, às 21h15, o Corinthians entrou em campo para enfrentar o Raja Casablanca, campeão africano. O jogo foi nervoso e os gols só saíram no segundo tempo: Luizão aos 5 e Fácio Luciano aos 19, para definir o placar: 2x0 para o Timão!


E aí, curtiram? Nos próximos dias vamos relembrar mais detalhes do torneio!

Escrito e revisado por Daniel Keppler; baseado parcialmente em thread do Twitter escrita em 19/12/2019

Nenhum comentário:

Postar um comentário