Rodriguinho jogou apenas 20 partidas pelo Cruzeiro em 2019 (Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro) |
Antes de qualquer coisa, precisamos deixar claro: esse é um texto de opinião. Portanto, representa o ponto de vista do autor, e não necessariamente de toda a equipe do Corinthians 247.
Mais uma vez a Fiel se dividiu nas redes sociais em torno de um tema envolvendo o Timão. Isso tem ocorrido bastante nos últimos meses (ou seria anos?), aliás. Sinal da nossa grandeza, pois é ela quem permite ao clube ter uma torcida tão plural. A polêmica da vez tem nome: Rodriguinho.
Desde essa sexta-feira (31), vem sendo noticiado na imprensa que o meia não vai continuar no Cruzeiro, e que ambos negociam uma rescisão amigável para o jogador ficar livre para outros clubes. Inclusive, desde então, o Corinthians já sinalizou que não pretende abordar o jogador para uma volta e três clubes brigam para contratá-lo, sendo que o Bahia parece o destino mais provável.
Sabendo disso tudo, por que falar em Rodriguinho então? Bem, a ideia aqui não é opinar sobre se uma possível volta dele ao Corinthians seria boa ou ruim, ou ainda brigar com a notícia e defender essa volta (ou a não-volta). A proposta aqui é debater algo maior: talvez, o aparente desinteresse da comissão em ter o futebol de Rodriguinho não passe exatamente por quem é o jogador, mas pelo que ele representa.
Carinho e gratidão
Rodriguinho chegou no Corinthians em 2013, vindo do América-MG (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians) |
Ao voltar para o Corinthians, Rodriguinho foi reserva durante boa parte da campanha do título brasileiro, passando a jogar como segundo volante. A partir de 2016, no entanto, com o desmanche da equipe, ele assume a titularidade, que nunca mais perdeu. Se no início era questionado pela torcida, foi conquistando a confiança da Fiel com gols e participações fundamentais em clássicos, especialmente contra o Palmeiras.
Seus números só melhoraram em 2017 e 2018, e quando vivia sua melhor fase no clube, acabou vendido para o Pyramids (EGI), por US$ 6 milhões. Ao todo, Rodriguinho atuou pelo Corinthians em 175 jogos e marcou 35 gols, sendo bicampeão do Paulista (2017 e 2018) e do Brasileiro (2015 e 2017).
Em janeiro de 2019, ele volta ao Brasil, mas rumo ao Cruzeiro, em manobra que foi sentida e lamentada por boa parte da torcida corinthiana. Em agosto, chegou-se a falar que o Timão era sua prioridade caso houvesse uma saída do time mineiro, mas nada foi concretizado.
Um novo conceito de elenco
A "fama" de Rodriguinho já rendeu vários memes, e ele não nunca se importou muito com isso (Foto: Reprodução) |
E um dos motivos alegados pelo Corinthians para não ter interesse no jogador, sempre revelado em off pela imprensa, talvez seja o que também cause essa mesma rejeição, hoje em dia: as desconfianças sobre o nível de comprometimento do jogador.
Dentro de campo, Rodriguinho mostrou no Cruzeiro que ainda tem sua importância. Nos nove primeiros jogos do time em 2019, ele marcou sete gols. Ao todo, foram 20 jogos, com oito gols e duas assistências, até se lesionar em maio, quando emendou duas cirurgias na lombar (uma em julho, outra em outubro) e acabou assistindo ao rebaixamento de sua equipe do departamento médico. Recuperado, voltou a campo esse ano, em dois jogos.
O problema é que, fora do campo, a fama de Rodriguinho não é boa. Desde os tempos de Corinthians, a torcida rotula o jogador como baladeiro e descompromissado. Andres Sanchez, em 2016, chegou a chamá-lo de "bandido do bem", e em resposta o jogador afirmou que achava "normal" treinar de ressaca. Mais de uma vez fez brincadeiras sobre situações do tipo, sempre ressaltando que não via problemas no consumo de álcool se suas obrigações em campo fossem cumpridas.
No entanto, esse ano Tiago Nunes chegou ao Corinthians, e com ele veio toda uma nova filosofia de trabalho. Entre seus princípios mais importantes, dois chamam demais a atenção. O primeiro, que para o treinador, a figura do jogador de futebol é uma só, dentro e fora de campo. Ele é um exemplo, e por isso não basta apenas ser um excelente jogador nas quatro linhas. E o segundo, mais conhecido o mantra "quem não corre, não joga", já repetido em coletivas por jogadores como Camacho e Pedro Henrique. Ou seja, o jogador terá que provar a todo instante que merece ser relacionado e jogar na equipe titular.
Esses dois princípios batem bastante de frente com as críticas mais severas que são feitas ao Rodriguinho. Por mais que ele realmente acredite que o importante é o jogador cumprir seu papel no campo, hoje não é o que se procura no Corinthians. E a fama de descompromissado, especialmente quando a fase da equipe piorava, sempre o assombrou. Ele teria que ralar muito para provar o contrário. Junte-se a isso tudo o fato de que, para vir, Rodriguinho teria que aceitar uma redução drástica do salário - algo que ele diz que faria, mas manteria a palavra nas negociações?
Talvez a comissão entenda que Rodriguinho não seria capaz de se adequar ao novo Corinthians que está sendo construído. Talvez eles acreditem que, em algum momento, o atleta iria ceder. E ao ceder, viriam as punições, e todo o desgaste (individual e coletivo) que vem junto com elas. Talvez, tudo seja uma questão de não aceitar o risco. E eu entendo que seja assim.
Sou grato pelo que Rodriguinho fez no Corinthians do passado. Mas talvez não haja mais espaço para Rodriguinhos no Corinthians do futuro.
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