Setor Oeste da Arena Corinthians, o que mais sofre para ter bons públicos (Foto: Reprodução/TimãoWeb) |
Neste domingo (9), o Corinthians volta a campo pelo Campeonato Paulista, recebendo a Internacional de Limeira em casa, na Arena. E, assim como no jogo de estreia contra o Botafogo, o público não deve ser dos mais altos: se naquele dia não houve mais que 25 mil corinthianos presentes em Itaquera para presenciar o show de Boselli e a goleada alvinegra, a parcial de ingressos vendidos para a próxima partida está em apenas 21 mil, segundo anunciado pelo próprio clube.
É um público que pode estranhar à primeira vista, pois nos últimos anos o Corinthians tem sido um dos times que mais atraiu sua torcida aos estádios: em 2015, 2016 e 2017 o Timão foi o clube com melhor média de público na temporada; em 2018 foi o terceiro e ano passado foi o segundo colocado - sempre com médias acima de 30 mil, superando os 33 mil algumas vezes.
Mesmo ao se fazer o recorte de competições, o estadual costuma se sair bem, com médias próximas dos 30 mil quase sempre. Mas não basta fazer esse recorte para perceber o problema, pois ele é mais embaixo, e está em uma questão que nasceu com a Arena: o dilema da precificação dos ingressos.
Jogos que não valem o preço
Fizemos um compilado de todas as 47 partidas do Corinthians em casa pelo Campeonato Paulista, desde 2015. Ao todo, foram 44 jogos na Arena e outros três no Pacaembu, no início da edição de 2018. E o que se percebe é que existem alguns padrões de comportamento do clube que explicam, em parte, os baixos públicos em jogos de menos apelo.Analisando os públicos e rendas do Timão no Paulista desde 2015, é possível verificar que o Corinthians tentou, de início, manter valores de ingressos muito semelhantes para todos os jogos de uma mesma fase, aumentando muito o preço em momentos mais agudos. A edição do estadual de 2015 refletiu isso: o corinthiano que foi assistir ao time vencer o Mogi Mirim por 3x0, em 1º de março, desembolsou um ticket médio de nada menos que R$ 49 - apenas R$ 7 a menos do que o cobrado no clássico contra o Santos, um mês depois.
Na edição de 2015 inteira, o valor médio do ingresso para ver o Corinthians enfrentar os pequenos do estado ficou em R$ 44. Resultado: em apenas um jogo, de sete, o público foi superior a 30 mil, e três dessas partidas estão entre os cinco piores públicos do Corinthians no ano! Tudo só piora se lembrarmos que 2015 foi o primeiro ano em que a Arena esteve funcional a temporada inteira, ainda era uma grande novidade para toda a torcida e o time vivia excelente fase dentro de campo.
Mesmo assim, em 2016 a direção (talvez animada com o Brasileirão recém-conquistado) resolveu dobrar a meta e aumentou ainda mais os ingressos. No Paulista desse ano, quem foi ver a vitória do Corinthians na estreia do torneio, por 1x0 contra o XV de Piracicaba, pagou nada menos que R$ 53 de ticket médio. Em 19 de março, nos 4x0 contra o Linense, o valor foi de R$ 54! Uns trocados a menos que os R$ 56 cobrados nos 2x0 sobre o São Paulo, em 14 de fevereiro.
Mas a média de público, que não diminuiu, também não aumentou: seguiu na casa dos 27 mil, contando apenas os jogos da fase de grupos, tirando os clássicos. Será que essa euforia da torcida não teria sido melhor aproveitada com os ingressos mais baratos?
Talvez a direção tenha pensado isso, pois em dezembro anunciou uma nova política de preços para os ingressos, que passaria a valer em 2017. E ela é notada ao se analisar os números do Paulista. Pela primeira vez, percebe-se uma diferença mais sensível entre o ticket médio dos jogos "menores" e dos clássicos. Ao inclui-los na média geral da fase de grupos, nota-se que o valor do ingresso sobe de R$ 41 para R$ 47 (uma diferença inédita).
Mas mesmo com essa redução, o corinthiano demorou a responder nas arquibancadas. O time vinha de um segundo semestre bem ruim em 2016 e passava por uma reconstrução. O resultado disso é que 2017 foi o ano com a pior média de público do Corinthians nos jogos contra pequenos: 14693 torcedores, para uma renda média de apenas R$ 605 mil.
A partir de 2018, no entanto, a política de ajustar o preço do ingresso à importância do jogo vai surtindo mais efeito. O ticket médio, que foi de R$ 41 em 2017, passou a R$ 37 - e chegou a R$ 35 em 2019. Parece pouco, mas rendeu dois aumentos de público médio, que foi a 17119 em 2018 e chegou ao recorde de 29713 na temporada passada. Confira mais detalhes desses números nas tabelas abaixo:
Variação do ticket médio do Corinthians como mandante no Paulista a partir de vários recortes |
Correlação entre taxa de ocupação do estádio e ticket médio cobrado pelo Corinthians no Paulista |
No meio do caminho
Mesmo com esses ajustes e melhorias na precificação, a regra é ainda termos públicos inferiores a 25 mil nesse momento da temporada. Nos últimos três anos de Paulista, apenas três vezes ultrapassamos essa barreira, todas ano passado. E isso é preocupante, pois a maioria dos jogos da fase de grupos do Paulista não são os clássicos, mas contra os pequenos: desde 2015, nos 26 jogos nessa fase, somente oito foram clássicos. E não podemos viver das rendas dos clássicos apenas!Um dos grandes entraves para que o clube atinja mais vezes públicos acima de 30 ou 35 mil é, com certeza, o setor Oeste. Considerado a "área nobre" da Arena, é a parte do estádio onde o ingresso custa mais caro, e muitas vezes o ingresso é tão caro que o setor fica vazio. E é de se questionar: por que o Corinthians prefere ver aquele setor às moscas em 70% dos jogos a ser ainda mais agressivo na política de preços dos ingressos e arriscar mais algumas lotações na Arena?
Nosso estádio tem um custo de operação, e ele é alto, sabemos disso. Mas também acreditamos que testes não fariam mal. Por que não utilizar dois ou três jogos na Arena e arriscar preços realmente populares em todos os setores? O clube teve rendas inferiores a R$ 1 milhão em jogos de Paulistas passados, e compensou com os clássicos e outras partidas importantes. Por que não seguir com essa lógica, mas arrecadando R$ 1 milhão com 30 mil torcedores na Arena apoiando o time?
Imaginem quantos corinthianos nunca puderam visitar o átrio do setor Oeste, uma das paisagens mais bonitas de um interior de estádio que existe no país, talvez no mundo? Imaginem que experiência seria, para esses corinthianos, poderem fazer essa visita, uma vez ou duas por ano? Ou imaginem ainda quantos corinthianos que, se hoje não podem comprar um ingresso de R$ 30 ou R$ 40 para ver o time jogar, poderiam fazê-lo se o mesmo custasse R$ 20? Que mal faria ao clube promover essa alegria ao seu torcedor por dois meses no ano?
Tenho convicção que os jogos do Paulista são um momento perfeito e ideal para o Corinthians se reencontrar com uma parte da torcida que, infelizmente, tem sido marginalizada pelas atitudes das últimas diretorias. Uma torcida que não pode mais ver seu time jogar nem pode comprar uma camisa oficial, pois tudo é caro e quase inacessível. Promover esse reencontro seria uma forma de o clube honrar suas origens e tradições populares, e ao mesmo presentear a Fiel em todos os seus espectros sociais. Será que é utopia pensar assim?
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