Sidcley e Tiago Nunes conversam durante partida do Corinthians (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians) |
Logo mais vamos publicar aqui o pós-jogo da derrota do Corinthians para o Guaraní (PAR). Mas antes, a gente precisa conversar aqui sobre um assunto: Sidcley. Aqui, só entre nós mesmo.
Enquanto via o jogo, teve um lance do jogo que me assustou bastante. Tipo, de verdade. Acho que lá pelos 30 minutos do primeiro tempo, a bola para por algum motivo e a transmissão foca no Sidcley. Parado, com uma mão na cintura, lustroso de tanto que suava, e uma cara de dor que parecia que tava sendo torturado. Sem falar na forma, ainda muito além do aceitável.
Pensei: "gente esse cara tá passando mal, alguém socorre". Porque parecia que ele tava sofrendo. E eu não falo isso por zoeira ou coisa do tipo, foi realmente a minha impressão.
Então o jogo foi passando. No intervalo foi mostrado que ele foi o responsável por quebrar a linha de impedimento que deixou Morel em condições pra marcar o gol do Guarani. A jogada da bola na trave também foi em cima dele. E durante todos os 58 minutos em que esteve em campo, suas costas foram o espaço por onde o Guarani mais conseguiu jogar, quando quis.
Os números explicitam a noite infeliz do Sidcley. Perdeu a bola nada menos que oito vezes durante o jogo, só conseguiu cruzar na área uma vez (errado), roubou apenas uma bola, não fez interceptações, não chutou a gol e nem driblou, uma vez sequer. Era o último que conseguia avançar ao campo de ataque, e também o último que conseguia voltar ao campo de defesa. Não há o que destacar de bom, dele, na partida.
Confiança sem limites?
Quando foi apresentado, em 9 de janeiro, Sidcley afirmou em coletiva que precisava de "mais ou menos uma semana" pra equiparar seu físico ao dos colegas. Já se passaram mais de duas semanas desse "prazo" e a sensação que fica é que pouco mudou.Mesmo assim, desde o início da temporada Tiago Nunes tem deixado claro que sua opção para a lateral-esquerda é Sidcley. Ele jogou o segundo tempo dos dois jogos do Timão na Florida Cup, e a partir do jogo contra a Ponte Preta no Paulista assumiu a titularidade e não saiu mais do time.
Fica difícil, porém, embasar essa confiança do treinador, ao analisar os desempenhos de Sidcley e Lucas Piton. O jovem da base se saiu muito bem em quase todos os jogos que atuou (exceto talvez no jogo contra o Mirassol, quando foi mais discreto). Bem na cobertura, bem no apoio e muito voluntarioso na criação de jogadas. Por outro lado, com Sidcley o setor esquerdo do Corinthians perde força. Então, o que explica sua titularidade?
Tudo só piora ao relembrarmos o mantra "quem não corre não joga", de Tiago Nunes, que remete fortemente a uma filosofia voltada à meritocracia na definição dos titulares. O que Lucas Piton fez, por exemplo, pra sair do time titular se estava rendendo bem? O que Sidcley fez para assumir a posição, mesmo sem condições físicas?
Um passo para trás
Vejam bem, a questão aqui não é fritar o Sidcley, ou desqualificá-lo. O ponto não é esse. O ponto é que hoje a titularidade do Sidcley está fazendo mal, e não só ao Corinthians, mas a ele próprio. Sua situação é delicada, pois foram meses sem jogar na Ucrânia. E sua posição é delicada, pois desde a saída do Guilherme Arana não temos um lateral-esquerdo, digamos, inquestionável. O último titular com regularidade, Danilo Avelar, passou 2019 inteiro sendo questionado, a ponto de com a chegada de Tiago Nunes aceitar o desafio de mudar de posição e virar zagueiro.Além disso, sua contratação foi precedida por uma grande novela. A diretoria insistiu demais na sua vinda e o transformou em verdadeira prioridade para a posição - o que certamente traz à situação uma pressão extra que poucos têm no elenco: a de justificar o esforço pela contratação. E a cada partida que Sidcley inicia como titular, sem estar 100% capacitado, ele aumenta essa pressão e queima mais um pouquinho do crédito que acumulou na sua primeira passagem e da paciência que o torcedor tem com qualquer um que jogue por ali. E do jeito que as coisas vão, todo esse cenário só tende a piorar, e para ele recuperar seu nome com a torcida depois, vai ser muito difícil.
Por isso, defendemos aqui que a melhor alternativa para ele, no momento, seria se afastar do elenco e realizar um bom trabalho de recuperação física (e até psicológica, talvez). Não seria vergonha alguma para ele tomar essa decisão: Chicão, em 2011, e Cássio, em 2016, ficaram afastados para recuperar a forma física, e ambos voltaram muito melhores. Por que seria diferente com Sidcley?
O Corinthians está lutando para iniciar, nessa temporada, uma nova forma de ver o futebol e de se comportar, dentro e fora de campo. As abordagens da direção no mercado sinalizaram isso e a filosofia de Tiago Nunes (com seus méritos e falhas) reforçam essa ideia. Por isso, acreditamos que todo o esforço é válido para se evitar que o Sidcley se torne mais um dos tantos que passaram por aqui destinados a resolver nossos problemas, mas que sentiram o peso e acabaram fracassando.
Sabemos que o Sidcley tem qualidade para ser importante no Corinthians de 2020. E queremos muito que ele dê certo e tenha muito sucesso nesse retorno! Mas para isso acontecer, precisamos que ele esteja à altura dos desafios que teremos na temporada. Ficou claro, nessa quarta, que hoje ele não está.
Para o seu bem, se afaste e se cuide, Sidcley. O Corinthians precisa do seu melhor.
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