A retomada do basquete do Corinthians, com o passado como guia

Kyle "Zoom" Fuller, o Gringo da Favela, um dos atletas mais conhecidos do atual elenco corinthiano (Foto: Marcus Steinmeyer/UOL)

“CORINTHIANS DERROTA BICAMPEÃO EUROPEU": assim estampava o caderno de esportes da Folha de São Paulo, em 6 de julho de 1965. No dia anterior, o basquete do Corinthians vencia o temido Real Madrid (ESP) em amistoso realizado no Parque São Jorge. A equipe era liderada por Wlamir Marques, um dos maiores jogadores brasileiros da história do esporte, que aposentou sua eterna camisa cinco no Corinthians e hoje dá nome ao ginásio do clube.

Como diz o próprio site do Timão, “desde quando o esporte era mais conhecido como bola ao cesto, o basquete alvinegro já tinha força e tradição no cenário nacional”. Uma história com inúmeros títulos – 14 estaduais, quatro nacionais, três continentais e um vice mundial – e de grandes jogadores, como o já citado Wlamir Marques e Oscar Schmidt, tido para alguns como os dois maiores nomes do basquete nacional.

Há relatos de corinthianos lotando o ginásio do Ibirapuera e acendendo sinalizadores no ginásio fechado. Durante a década de 60/70, quando o futebol não vivia seus melhores anos, a torcida abraçou o basquete que viria a ser vice campeão mundial em 1966. 

Em 1995, o Corinthians Basquete voltou com tudo, e a empolgação da torcida não foi diferente, encantando o até então santista Oscar Schmidt. “Eu escolhi torcer pelo Corinthians. Fui conquistado pela torcida”, disse o ‘mão santa’ no dia em que se tornou o primeiro atleta fora do futebol a entrar no Hall da Fama do clube em 2011.

Oscar Schmidt, um corinthiano "convertido" pela torcida (Foto: Gazeta Press)

O retorno em 2017

Após outra longa pausa, a modalidade retomou as atividades em 2017. Reformulada por completo, a equipe teve de recomeçar na Liga Ouro (atual segunda divisão do basquete brasileiro) e foi campeã logo no ano de estreia, conquistando assim, a vaga ao Novo Basquete Brasil (NBB), onde fez bonito logo de cara! Desde que voltou a ativa, o basquete corintiano tem cumprido um bom papel, com seu ápice sendo atingido neste ano, onde conquistou dois vice-campeonatos e um recorde no nacional.

Gustavinho levantou a taça da Liga Ouro em 2018 (Foto: Danilo Sardinha/Globo Esporte.com)

Para os torcedores que não estão familiarizados com o calendário do basquete brasileiro, a temporada se inicia entre agosto e outubro, e não em janeiro, como no futebol. Então, para falarmos do grande 2019 que a equipe fez, temos de começar lá atrás, no NBB 18/19!

NBB 2018/19: a campanha

Comandado pelo “gringo da favela” Zoom Fuller, o Corinthians fez história logo na sua estreia na elite: bateu o recorde de melhor campanha de um estreante no campeonato. Mesmo perdendo mais que ganhando na primeira fase – 12 vitórias e 14 derrotas, o Timão avançou aos playoffs com a sétima melhor campanha para enfrentar o Brasília. Por ter a melhor campanha, decidiu em casa e levou a melhor na série, vencendo por 2x1. Porém, nas quartas, enfrentou o Flamengo, que acabou levando a melhor, vencendo a série por 3x0. Vale lembrar que a equipe carioca acabaria se tornando a campeã do torneio.

Temporada 2019/20: investimentos e mudanças

Após a boa campanha na estreia do NBB, a diretoria não viu outra alternativa a não ser aumentar o investimento no esporte. Tendo como prioridade renovar com atletas que se destacaram em quadra e/ou se identificaram com o projeto, como o “queridinho da fiel” Zoom Fuller, o também armador Ricardo Fischer, o ala Humberto, o pivô Teichmann e o ala-pivô Douglas, tido como promessa corintiana.

Porém, como não se faz uma equipe forte apenas de renovações, a equipe também contou com reforços para fortalecer o plantel da equipe. Os estrangeiros Tracy Robinson e Anthony Johnson, da liga chilena e argentina respectivamente, o bahamense David Nesbitt (ala-pivô que chega do atual campeão Flamengo) e os brasileiros Felipe Vezaro (ala, ex-Joinville) e Arthur Pecos (armador ex-Mogi) chegaram para ampliar as opções do técnico Bruno Savignani.

Liga Paulista 2019

Com todos estes jogadores à disposição, o Corinthians iniciou a temporada 19/20 na Liga Paulista, onde é o maior vencedor da história, com 14 títulos, e fez uma ótima campanha. 

Após a primeira fase, onde as equipes foram divididas em dois grupos, o Timão passou aos playoffs com uma campanha de sete vitórias e três derrotas, se classificando em primeiro do Grupo B, nos critérios de desempate.

Pelas regras do torneio, se classificando em primeiro do grupo, o Corinthians teve a vantagem de entrar nos playoffs diretamente nas quartas de final, enfrentando o Pinheiros, que foi despachado rapidamente com 2x0 na série. Na semifinal, o Timão saiu atrás contra o forte Mogi das Cruzes, mas conseguiu a virada em casa e eliminou o adversário por 2x1 na série!

Porém, na final, os alvinegros não foram páreos para Franca, que acabou vencendo a decisão por 2x0, ficando assim com o seu 13º título estadual e encostando no Corinthians na série histórica.

Liga Sul-Americana 2019

Após ter ficado com a sexta colocação no NBB 18/19, o Corinthians conseguiu a vaga para a Liga Sul-Americana que, assim como no futebol, é uma competição que reúne equipes de todo o continente, mas que não obrigatoriamente foram tão bem assim em seus campeonatos locais.

Jogando em casa, no ginásio Wlamir Marques, o Timão passou por cima de todos adversários nas duas primeiras fases: 90x66 contra o Las Ánimas (CHI), 68x62 contra o Defensor (URU) e 83x65 contra o Ferro Carril Oeste (ARG) na primeira fase e 78x71 contra o Pinheiros, 110x56 contra o Piratas de Los Lagos (EQU) e 77x57 contra o Ferro Carril Oeste (ARG) na segunda fase. Com isso, a equipe se classificou para a decisão do torneio continental, para enfrentar o Botafogo. 

Por ter a melhor campanha, o alvinegro disputou o primeiro jogo no Rio de Janeiro e dominou o adversário – 88x74, voltando pra São Paulo com 1x0 na melhor de três. Porém, mesmo com a torcida comparecendo em peso, o Corinthians tomou a virada na série – 64x74 e 70x74 nos jogos dois e três, respectivamente. Foram dois jogos com roteiro parecido: péssimos inícios do Corinthians, que reagiu nos finais, mas sem conseguir virar. No último, por exemplo, foi ao intervalo perdendo por uma diferença de 16 pontos, ensaiou uma reação e conseguiu ficar à frente no fim do terceiro quarto, mas perdeu fôlego e, consequentemente, o título. 

NBB 2019/20

A atual edição do NBB, começou em outubro, e o primeiro turno se encerrou neste mês. Após as 15 primeiras rodadas, o Alvinegro ocupa a oitava colocação, com oito vitórias e sete derrotas. 

Com isso, a equipe se classificou para disputar a Copa Super 8, torneio de meio de temporada, que reúne os oito melhores do primeiro turno, e cujo campeão vai para a Liga dos Campeões da América. O Super 8 será disputado entre 4 e 11 de janeiro, e o Corinthians enfrentará o Flamengo na estreia.

Análise final

Foi um 2019 de altos e baixos para o basquete corintiano. O time alcançou marcas importantes, como a melhor campanha de um estreante no NBB e a volta a final do Campeonato Paulista, porém acabou deixando a torcida com um gosto de "quero mais" ao perder duas finais na temporada. 

Para o restante da temporada 201/20, a expectativa é que o corintiano continue enchendo o Wlamir Marques, mas sem colocar metas muito ambiciosas dentro de quadra. O Corinthians, desde que voltou à modalidade, se mostra um time muito inconstante e isso deve continuar. Neste primeiro turno de NBB, por exemplo, o time chegou a conquistar sete vitórias seguidas, mas foi perdendo o fôlego e, neste final de turno, amargou três derrotas consecutivas.

Esse cenário, entretando, pode mudar se a equipe for reforçada para o returno do NBB (que tal por exemplo uma eventual vinda de Anderson Varejão, ainda sem clube desde que saiu do Flamengo?). Talvez, reforçada, a equipe encontre o equilíbrio que a faz "perder a cabeça" em momentos-chave de alguns jogos.

Antes disso, porém, vale a pena ficar de olho no Super 8, em janeiro, onde o Corinthians já enfrentará uma pedreira logo de cara: o Flamengo. Vamos torcer pelo melhor!

Escrito por Erick Araújo e Thiago Lopes, revisado por Daniel Keppler