Corinthians e Corinthian-Casuals, unidos em campo após o amistoso na Arena (Foto: Stuart Tree) |
POR DANIEL KEPPLER, CORINTHIANO E JORNALISTA EM ETERNO APRENDIZADO
Existem memórias na vida da gente que, de tão importantes, tão recorrentes, viram atemporais. Você pensa tanto naqueles momentos, fala tanto deles pra seus amigos, conhecidos, que é quase como se eles tivessem acontecido em outro plano, além da nossa realidade.
Mas eles acontecem aqui, na vida real, e por isso têm um dia no qual a lembrança não só é válida, como obrigatória. Esse 24 de janeiro é um desses dias, para mim. Afinal, foi em um 24 de janeiro que eu tive o privilégio de vivenciar uma das maiores experiências de corinthianismo dos meus 31 anos. Foi em 24 de janeiro de 2015 que eu testemunhei o amistoso entre o Timão e o Corinthian-Casuals, herdeiro do lendário Corinthian FC que marcou época no futebol mundial, no fim do século XIX e início do século XX e inspirou nossa fundação!
Foi um jogo onde o corinthianismo esteve à flor da pele. Desde antes da bola rolar, com a linda homenagem dedicada à Sócrates, onde os atletas das equipes entraram em campo com faixas nas cabeças, com dizeres como "Não à Guerra", "Paz", "Liberdade" e "Democracia". A minha, tenho até hoje, entregue pela própria Katia Bagnarelli, viúva do nosso ídolo e um ser humano espetacular.
Foi um jogo onde as memórias dos dias anteriores não pararam de passar na minha cabeça. Tive a honra de fazer parte do staff que acompanhou o Corinthian-Casuals em São Paulo, desde seu desembarque. E graças a isso, pude ser apresentado a um outro jeito de fazer futebol: aquele onde o que vale é o amor pelo esporte, e não o dinheiro que ele traz. Algo que tanto pedimos por aqui, e que lá é estatuto: ninguém no Casuals recebe salário. O clube é amador com orgulho e por convicção!
Ainda me lembro da visita dos jogadores ao Hospital Santa Marcelina, onde levaram um pouco de alegria e esperança aos assistidos pela Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (TUCCA). E como esquecer as quatro toneladas de alimento arrecadadas no treino aberto feito na Arena, na véspera do jogo?
Também houve os momentos de maior distração, como a visita ao CT, onde vivi a emoção de conhecer os jogadores do Corinthians, ou a ida à Gaviões da Fiel, onde descobri como funciona um ensaio da bateria antes do Carnaval! Ou ainda a verdadeira viagem ao passado que presenciei, quando o Corinthian FC voltou a campo para enfrentar Paulistano e São Paulo Athletic Club em um minitorneio amistoso. Como não ficar marcado por memórias como essas?
Em campo, na Arena, dois Corinthians: um que sempre amei, e outro que aprendi a amar. Ambos se enfrentando, em uma Arena com outras 30 mil testemunhas desse momento, onde o que menos importava era o resultado. O que importava ali era o sentimento de irmandade, que era inquestionável: estava no ar!
No fim do jogo, Danilo repete Sócrates e veste a camisa do Casuals: mais emoção! E o inverso ocorre, com James Byatt vestindo nossa camisa, com muito orgulho e tendo um gol "roubado" pelo Luciano, pra minha revolta - e de toda a torcida!
Mas ao final, as equipes se unem, para levantar juntas o Troféu Sócrates, cedido aos ingleses em honra à visita.
Foram dias em que eu me senti corinthiano como nunca antes, e que revivo na mente quase todos os dias. Até hoje, cinco anos depois, sinto que nunca vou poder retribuir ao clube o privilégio proporcionado, de conhecê-los tão de perto. Então, acima de tudo, esse texto não é apenas uma lembrança, ou uma homenagem. É, também, um grande "muito obrigado", aos amigos do Corinthian-Casuals e todos com quem pude conviver naquele tour.
Também existe corinthianismo do outro lado do oceano.
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